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TRILOGIA KARNSTEIN - SAGA REVIEW

 

Karnstein.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


A trilogia Karnstein é uma das mais bem sucedidas sagas de vampiros do cinema.  Claro que não seria desta forma se não houvesse a mão do famoso e eficiente estúdio Hammer para cuidar do projeto. 

O primeiro filme, dirigido por Roy Ward Baker, se chamou Carmilla - A Vampira de Karnstein. Feito em 1970, ele conta a história de uma misteriosa condessa que viaja para o exterior para visitar um amigo doente, o general Spielsdorf. Ele, por sua vez, oferece-se para cuidar de sua filha Carmilla. O que o general não imagina é que Carmilla é a reencarnação de uma terrível vampira que inicia um ritual macabro para saciar sua sede de sangue. A trama explora a personagem criada pelo escritor irlandês Joseph Sheridan LeFanu, que falaremos mais abaixo.


O segundo filme, Luxúria de Vampiros, mostra Carmilla Karnstein, que reencarna no corpo de uma linda jovem (Yutte Stengaard) durante um ritual de magia negra. A vampira inicia então uma terrível sequência de depravação sexual entre as jovens de uma escola para garotas. Mas, os propósitos de Carmilla não param por aí. Ela precisa se alimentar e os moradores do vilarejo sabem que precisarão se unir para derrotar esse terrível mal.

Na terceira parte, gêmeas vão viver com o tio, num vilarejo, no qual à noite são vistas figuras femininas vagando. Os aldeões acreditam que o responsável por tudo é o Conde Karnstein, que mora num castelo. Mas elas acabam aproximando-se do castelo, a despeito da proibição do tio. O filme se chama "As Filhas de Drácula".


O filme foi uma coprodução entre a Hammer e American Internacional, que estava interessada em um filme de vampiros com conteúdo sexual mais explícito para se beneficiar de um ambiente de censura mais ameno.  Antes da produção, o roteiro de "Carmilla, a Vampira de Karnstein" foi enviado ao chefe dos censores, John Trevelyan, que advertiu o estúdio sobre as cenas de lesbianismo, apontando que um filme sobre o tema, filmado anteriormente e chamado "Triângulo Feminino" (dirigido pelo consagrado Robert Aldrich), teve cinco minutos excluídos. Mas por fim, chegaram num acordo.

A produção é protagonizada por Ingrid Pitt, uma atriz polonesa que passou por maus momentos na vida quando ficou presa num campo de concentração com seus pais na segunda guerra. Ela sobreviveu, acabou conhecendo anos depois um soldado americano e se mudou para a Califórnia. Entre idas e vindas, fim do casamento, retorno para a Europa, acabou migrando para o cinema em meados dos anos 60. 


O produtor James Carreras rejeitou a sugestão de que a Bond girl Shirley Eaton (007 Contra Goldfinger), assumisse o papel principal, alegando que ela era muito velha. Ingrid Pitt, apenas 10 meses mais nova que Eaton, acabou sendo escalada.

A produção de Luxúria de Vampiros começou logo após o lançamento de Carmilla. O diretor Jimmy Sangster substituiu Terence Fisher na função, que era a escolha natural da Hammer, que o escalava para os principais filmes do estúdio. Por conta da censura, este filme e o terceiro tiveram menos elementos lésbicos na trama. Carmilla, por exemplo, se apaixona por um homem. Ingrid Pitt foi escalada, mas recusou (achava o roteiro terrível). Peter Cushing deveria ter aparecido no filme, mas negou para cuidar de sua esposa doente. Bernard Robinson foi convidado para ser designer de produção, mas morreu horas após da oferta ter sido feita. 


A seguir veio o terceiro filme da Trilogia de Karnstein. O filme tem a menor semelhança com o romance original e adiciona um tema fascinante à história dos vampiros. Muito do interesse do filme gira em torno do mal contrastante com a beleza de duas irmãs, Frieda e Maria Gellhorn. A Hammer queria originalmente fazer um filme chamado As Vampiras Virgens (Vampexploitation?). No entanto, o produtor Harry Fine viu o sucesso da Playboy com duas gêmeas e decidiu fazer um filme com foco nelas. 

Mary Collinson e Madeleine Collinson eram de Malta e ainda tinham fortes sotaques malteses. Como haviam feito com outros atores estrangeiros, Hammer simplesmente dublou os diálogos, substituindo por artistas britânicos. Por razões econômicas e logísticas, o filme usou os mesmos cenários de "O Circo do Vampiros", lançado no ano seguinte.


Carmilla


Publicado 26 anos antes do romance de Bram Stoker, o escritor gótico Sheridan Le Fanu lançou sua novela Carmilla, um conto de horror chocante detalhando as façanhas da condessa morta-viva Carmilla Karnstein. 

É inegável que Carmilla abriu as portas para toda uma geração ao explorar o lesbianismo no subgênero. Cineastas importantes como Jean Rollin e Jesus Franco foram fortemente influenciados pela vampira Karnstein ao realizarem filmes marcantes do horror, como Vampyros Lesbos (Franco) e Réquiem para um Vampiro (Rollin).

Carmilla influenciou o cinema de horror como um todo, desde os primórdios, assim como o mais notório, Drácula. Já nos anos 30, porém, o lesbianismo é mantido de lado até os anos 60, sempre colocado de forma sutil ou sugestivo. Roger Vadim foi o diretor que, adaptando a obra do escritor Sheridan, colocou no seu "Rosas de Sangue" o tom lésbico esperado até então. Annette Stroyberg faz uma Carmilla até então inédita no cinema. 


Numa época totalmente diferente dos anos que vivemos, Carmilla é a representação do desejo que muitos de nós temos ao mesmo tempo, em que a repressão social toma conta dele, como um manto negro por cima de nossas reais vontades e anseios. Neste sentido, Carmilla é a ferramenta, funcionando como um gatilho inspirador para aqueles que desejam, não somente "sair do armário", como o próprio personagem fez no cinema, mas dar asas a liberdade de fazer algo, mesmo que não seja para nortear os desejos sexuais de forma definitiva. 

A história é narrada por Laura, uma jovem que conta os dias passados na companhia da misteriosa Carmilla e os eventos estranhos que ocorreram na região após a sua chegada. O conto é curto, publicado em capítulos na revista Dark Blue entre 1871 e 1872 e incorporada na coleção do escritor chamada "In a Glass Darkly", publicada em 1872. In a Glass Darkly consiste em uma série de casos misteriosos estudados supostamente por um especialista alemão em ocultismo, Dr. Martin Hesselius. Havia dois ilustradores para a história, cujo trabalho apareceu na revista, mas não aparece nas edições modernas do livro. Os dois ilustradores, David Henry Friston e Michael Fitzgerald, mostram algumas inconsistências em sua descrição dos personagens, e como resultado, houve algumas confusões em relacionar as imagens ao longo do desenvolvimento da história.


Bram Stoker leu Carmilla e sua influência, entre outros aspectos, é evidente na caracterização das vampiras que atacam Jonathan Harker no início de Drácula (1897). As descrições de Lucy em Drácula são semelhantes à de Carmilla, e elas se tornaram arquétipos de vampiras enganadoras que atraem suas vítimas, sendo descritas com bochechas rosadas, esbeltas, lânguidas, e com olhos grandes, lábios carnudos e vozes suaves. Ambas as mulheres também são sonâmbulas. A influência de Carmilla também pode ser vista nos nomes dos personagens: "Karnstein" se tornou "Carfax", "Reinfeldt" se tornou "Renfield".

O Dr. Abraham Van Helsing de Stoker, é um paralelo direto com o caçador de vampiro de Le Fanu, Baron Vordenburg: ambos os personagens são utilizados para investigar e catalisar as ações do vampiro, e simbolicamente representam o conhecimento do desconhecido e da estabilidade da mente no ataque do caos e da morte. 


Tudo isto já são argumentos suficientes para mostrar como a trilogia Karnstein é essencial para os apaixonados pelo horror. 

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