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OS INOCENTES (1961) - FILM REVIEW


Os inocentes

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Jack Clayton é um daqueles "cases" de sucesso, que mesmo com poucos filmes em sua carreira (7 no caso), conseguiu com um deles marcar o cinema para sempre. Os Inocentes, foi seu segundo filme, é considerado uma das maiores obras-primas do horror da história. No filme, Giddens (Deborah Kerr) é contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em circunstâncias misteriosas. Com o passar do tempo, Giddens acredita que existe alguma coisa escondida nas trevas da mansão, fazendo com que as crianças tenham um comportamento muito assustador.

Baseado na novela A Volta do Parafuso do romancista americano Henry James, o roteiro foi adaptado por William Archibald (dramaturgo e que havia feito a peça do filme antes) e Truman Capote. O duplo roteiro foi por conta do tratamento inicial dado por William, que direcionou a história inteiramente para o campo paranormal. Capote foi chamado para "virar" a trama para o horror psicológico, dando duplo sentido a muitas cenas e gerando possibilidades interpretativas diferentes. O diretor Jack Clayton imaginou uma conclusão mais ambígua possível. A ideia era de que o mal "brotasse" na mente sugestionável da governanta.


Os simbolismos e as concepções visuais sugerem uma mente paranoica e não uma atividade paranormal verdadeira. Deborah Kerr sempre considerou o papel seu melhor desempenho.

Algo estranho e sinistro estava acontecendo naquela casa.
Giddens (Deborah Kerr)

A iluminação estilizada e melancólica, tão marcante na obra, ficou a cargo de Freddie Francis, famoso pela sua filmografia por diretor. Ele fez obras como O Monstro de Frankeinstein, As Profecias do Dr. Terror, A Maldição da Caveira, As Torturas do Dr. Diabolo, Drácula, o Perfil do Diabo, Trog, o Monstro da Caverna, O Filho de Drácula, Contos do Além, Essência da Maldade. O que muitos não sabem é que como diretor de fotografia, ele realizou obras como O Homem Elefante, A Mulher do Tenente Francês, Duna, Tempo de Glória e Cabo do Medo. Trabalhos incríveis e, ao mesmo tempo, tão diferentes uns dos outros, mostrando a excelência do seu trabalho. Venceu inclusive dois Oscars nas duas vezes que foi indicado (em 1960 e 1989).

Freddie Francis no set do filme

Na edição, o grande destaque são sobreposições criadas por Jim Clark mesclando até quatro imagens em um único quadro (foto abaixo). O posicionamento da câmera sugere uma sensação de claustrofobia ao mesmo tempo que enfatiza o horror presenciado por Giddens. Outro trabalho destacado é o som. O filme também foi pioneiro no uso de sons eletrônicos sintetizados criados por Daphne Oram. Ela foi a criadora da técnica Oramics para criação de sons eletrônicos, co-fundadora do BBC Radiophonic Workshop, e uma figura central na evolução da música eletrônica.


Além de ser uma inovadora musical, ela foi a primeira mulher a dirigir um estúdio de música eletrônica, a primeira mulher a montar um estúdio pessoal de música eletrônica e a primeira mulher a projetar e construir um instrumento musical eletrônico. Ou seja, Os Inocentes tem mesmo pedigree de obra-prima.

O filme é um dos meus favoritos e ainda é um dos mais belos trabalhos que já fiz
Freddie Francis

Filmes de horror com crianças, muitas vezes, são cercados de polêmicas (vide Poltergeist e O Exorcista). Jack Clayton não queria que as crianças fossem expostas aos temas mais sombrios da história, então eles nunca viram o roteiro na íntegra. As crianças receberam suas páginas um dia antes de serem filmadas.


Porém, a cena do beijo do garoto com Giddens e na sequência, o olhar que ele faz, apavorou até os executivos da 20th Century Fox. Mérito do ator mirim Martin Stephens (Miles), que já tinha participado de outro filme com crianças-problema, A Aldeia dos Amaldiçoados, de 1960. A sexualidade reprimida  de Giddens é mostrada com um erotismo perturbador. 

A volta do parafuso

O livro de Henry James é pequeno e conhecido por sua ambiguidade, algo que Jack Clayton buscou em seu filme (sem o sucesso do livro, já que no livro, as dúvidas são bem maiores que as certezas). Lembrando um pouco o estilo narrativo do escritor  J. R. R. Tolkien na trilogia O Senhor dos Anéis; o livro é muito descritivo, imprimindo à obra um ritmo lento. A obra deixa pistas e indícios que levam ao telespectador a vários caminhos.

Veja todas as adaptações aqui ⇢  a volta do parafuso no cinema/tv


Como a narradora da história é a protagonista, tomamos conhecimento de tudo que acontece de forma parcial, de um único ponto de vista, que é a pessoa que pode ou não estar perturbada. Seu desespero é flagrante, mas não sabemos se é provocado por um motivo real.

A outra volta...

A adaptação de Os Inocentes para os palcos foi feita, como dito acima, por William Archibald.  A peça também é curta, focada em um só ambiente, tendo aparições "reais" de fantasmas. O personagem de Miles é menos prolixo, dando dinâmica à trama. Portanto, a escolha de William para roteirizar o filme era natural, já que ele havia trabalhado por um tempo com a história e personagens. Jack Clayton achou melhor chamar Truman Capote, que estava escrevendo "À Sangue Frio", para levar a ambiguidade à história.

Obra obrigatória.


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