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CRISTIAN VERARDI - RESPONDE ÀS 7 PERGUNTAS CAPITAIS

Nossa "vítima" das 7 perguntas capitais de hoje é o cinéfilo, ator, diretor, escritor (e algumas outras funções que ele acumula relacionadas ao cinema) Cristian Verardi. Abaixo ele contou um pouco de como começou sua paixão pelo cinema, e até aonde ela o levou.

Confiram como foi:


1) Quando nasceu sua paixão pelo cinema? Houve aquele momento em que olhou para trás e pensou: sou cinéfilo!!? 

C.V.: Toda vez que reflito sobre isso tenho a sensação de que a paixão pelo cinema é um elemento que sempre esteve presente em minha vida. A lembrança mais remota que tenho da infância é a de estar no colo de minha mãe no escuro de um cinema, isso no final dos anos 70. Recordo que era um faroeste, provavelmente algum western spaghetti. Lembro-me da sensação de imersão diante da tela, gigantesca aos olhos de uma criança, do som alto dos tiros, do cheiro peculiar da sala, misto de mofo e cigarro. O tipo de coisa que fica impressa na memória afetiva. 

A consciência de que eu era um cinéfilo tomou forma na adolescência, quando eu preferia faltar aos jogos de futebol com os amigos para assistir a Sessão da Tarde, ou não ir a alguma festa para varar a noite vendo filmes no Corujão. Isso tudo antes da ascensão dos videocassetes, que nos anos 80 ainda eram um artigo de luxo. Nos anos 90 eu já escrevia resenhas sobre filmes para fanzines. Recordo de ter uma redação reprovada na escola após fugir do tema e entregar uma análise sobre Evil Dead; uma  provocação juvenil movida pela paixão.

2) Coleciona filmes, cds ou algo relacionado à 7ª arte ? Afinal, quem curte cinema, costuma ter suas relíquias em casa...

C.V.: Cinefilia e colecionismo na maioria dos casos são indissociáveis. Sou quase um acumulador de tudo relacionado ao cinema, filmes, livros, cd's, cartazes. Porém, a maior parte de minha coleção é relacionada com o cinema fantástico. Hoje é muito fácil adquirir material, um filme está à distância de um click, de um torrent. Antigamente adquirir um filme era uma experiência árdua de garimpagem. E dependendo do grau de raridade do filme era necessária uma dose maior de persistência, além de bons contatos com outros colecionadores. 

Lembro, por exemplo, de ter descoberto a obra de Alejandro Jodorowsky através de uma cópia pirata em VHS de "A Montanha Sagrada", ripada do Laserdisc japonês, e demorei quase 20 anos para conseguir adquirir uma cópia razoável do filme australiano "Next of Kin". Naquela  época cada um tinha sua rede de contatos que envolvia cinéfilos de todo Brasil, e até ao redor do mundo, tudo movido na base de trocas através dos correios. Apesar da facilidade do download acho que hoje é mais complicado depurar a quantidade de informação. Os HDs lotados de filmes parecem tornar as obras mais descartáveis, isentas de certo valor agregado.

M.V.: Exatamente isto. Antes eu locava 3 clássicos para assistir em um final de semana (na era VHS). Hoje baixo 15 em um dia e não assisto nenhum deles.

3) Você é associado ao cinema de horror. O que te atraiu para este universo? 

C.V.: A atração pelo gênero também é algo que foi semeado na infância. Cresci lendo revistas em quadrinhos de horror como Spektro, Kripta e Calafrio, e assistindo aos filmes da produtora inglesa Hammer. Estas influências foram essenciais na formação do meu gosto pelo cinema fantástico. O imaginário da minha infância era repleto de vampiros, lobisomens, múmias, e outros monstros, portanto esse universo sempre me pareceu normal, assim como foi natural a transição de fã para realizador. O mágico, o assombroso, são elementos fascinantes, ainda mais para uma criança que está descobrindo o mundo, e de certa forma o contato com o cinema de horror levou à sublimação do medo de uma forma positiva. 

M.V.: Em sua opinião, porque o horror gera tantas discussões, contabiliza inúmeros seguidores e ao mesmo tempo, é tão deixado de lado em premiações como Globo de Ouro e Oscar?

C.V.: Apesar de ser um gênero com mais tendência a ser marginalizado, não acho que o cinema horror seja tão menosprezado pelo establishment quanto costumamos imaginar. Numa breve revisão histórica de premiações como o Oscar podemos encontrar indicados importantes para o gênero como "O Médico e o Monstro" (1931), "O Bebê de Rosemary" (1968), "O Exorcista" (1973), "Tubarão" (1975), "A Profecia" (1976), "O Silêncio dos Inocentes" (1991), "Drácula, de Bram Stoker" (1992). E mesmo no Brasil recentemente tivemos filmes de horror fazendo sucesso em grandes festivais. "As Boas Maneiras", de Marco Dutra e Juliana Rojas, venceu o Festival do Rio deste ano com uma trama envolvendo lobisomens. No mesmo festival tivemos o violento "O Animal Cordial" de Gabriela Amaral, e "O Nó do Diabo" marcou presença no Festival de Brasília.

4) Qual sua experiência dentro do universo cinematográfico que mais te marcou?

C.V.: Como espectador uma das experiências mais marcantes da minha vida foi uma sessão de Canibal Holocausto em meados dos anos 80. Certamente não era uma sessão indicada para uma criança, mas pelo fato de o dono do cinema ser um amigo próximo da família eu tinha acesso à filmes impróprios para minha idade. O filme causou grande impacto em mim, foi meu primeiro contato com crueldade cinematográfica extrema. 

O choque inicial se tornou uma fascinação, à ponto de me motivar a trabalhar com cinema. 30 anos depois eu encontrei o diretor Ruggero Deodato e pude lhe contar essa história pessoalmente. Outros momentos que me marcaram foram ter trabalhado com Rodrigo Aragão em "A Noite do Chupacabras" e "Mar Negro", onde desenvolvi personagens que acabaram abrindo portas para meu trabalho como ator. E a seleção de meu curta "Ne Pas Projeter" para o festival internacional de cinema fantástico de Sitges, um dos mais renomados do gênero no mundo, foi a minha maior realização como diretor.

5) Existe uma lista dos "filmes da sua vida"? Algo como o top 10...

C.V.: Acho uma tarefa quase impossível definir brevemente os filmes que considero importantes em minha vida, mas focando no cinema de gênero arrisco uma lista com 13 títulos que me marcaram em algum período da minha formação como cinéfilo:

Três Homens em Conflito (The Good, The Bad and The Ugly / 1966), de Sergio Leone; À Meia Noite Levarei Sua Alma (1964), José Mojica Marins; Os Inocentes (The Innocentes / 1961), de Jack Clayton; Meu Ódio Será Tua Herança (The Wild Bunch / 1969), de Sam Peckimpah; Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead /1978), de George Romero; Prelúdio Para Matar (Profondo Rosso / 1975), de Dario Argento; Nosferatu (1922), de F.W. Murnau; O Vampiro da Noite (Horror of Dracula / 1958), de Terence Fisher; Zumbi 2- A Volta dos Mortos (Zombi 2 / 1979), de Lucio Fulci; Canibal Holocausto (Cannibal Holocaust / 1979), de Ruggero Deodato; O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainshaw Massacre / 1974), de Tobe Hooper; Monty Python em busca do Cálice Sagrado (Monty Phyton and the Holy Grail / 1975)- Terry Gilliam / Terry Jones; Os Selvagens da Noite (The Warriors /1979), de Walter Hill.

6) Fale um pouco sobre os seus próximos projetos, ou algum que esteja trabalhando neste momento.

C.V.: No momento estou me dedicando mais a literatura, centrado na divulgação de meu livro de poesias "O Diabo Belisca Meus Calcanhares", que foi lançado este ano pela editora Artes & Ecos, e tenho investido mais em meu trabalho como ator do que como diretor. Não tenho nenhum projeto em vista para dirigir no momento, enquanto isso estou começando a desenvolver um roteiro chamado "Rastro de Caixão". Mas este ano já podem me ver como ator no curta "Reflexo", de Rodrigo Portela, e em 2018 nos longas "A Noite Amarela", de Ramon Porto Mota e "Morto Não Fala", de Dennison Ramalho.  Fora isso continuo com meu trabalho como crítico de cinema junto ao programa de rádio Zinematógrafo. 

7) Para finalizar, se pudesse deixar uma lição da sua vida dedicada à arte, qual seria?

C.V.: Sobreviver de arte na maioria dos casos requer uma vida de abnegação. Não sei se existem lições que nos preparem para isso, mas aprendi que sem persistência e paixão o caminho não nos leva para muito longe.

M.V.: Obrigado amigo. Sucesso. A gente se vê os filmes.  


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