google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

CANNON GROUP - A HISTÓRIA


INÍCIO ATÉ 1979

Somos a América Vídeo, e nossos filmes explodem como dinamite!

A distribuidora encontrou seu nicho de mercado principalmente com filmes de ação e aventura de baixo orçamento e gosto duvidoso. Porém, com exemplares muito divertidos.

O que pouca gente sabe, no entanto, é que o principal combustível da América Vídeo era a produtora de cinema norte-americana Cannon Films, ou Cannon Group, que existiu de 1967 até 1993, sempre produzindo filmes de baixo e médio orçamento. A Cannon Group era administrada pelos produtores israelenses Menahem Golan e Yoram Globus.


Tudo começou nos anos sessenta em Israel, quando os primos Menahem Golan e Yoram Globus produziram filmes que fizeram algum sucesso no país. Em meados dos anos setenta, o objetivo da dupla era alcançar o mercado internacional. Para atingir o objetivo, o primeiro passo foi produzir um longa protagonizado por atores americanos conhecidos. Eles conseguiram contratar Robert Shaw, Richard Roundtree, Barbara Hershey e Shelley Wintes para um filme sobre um assalto chamado "Diamantes". Os quatro eram famosos na época, mas mesmo assim o filme não chamou a atenção.

O sucesso acabou chegando de forma inesperada com "Operação Thunderbolt" de 1977, longa que tinha como rostos conhecidos apenas o veterano problemático Klaus Kinski  e a estrela de filmes B Sybil Danning. A trama sobre a história real do sequestro de um avião que saiu de Israel e foi levado para Uganda fez a dupla de produtores ficar conhecida fora de Israel.


No ano seguinte conseguiram novo sucesso, a comédia adolescente "Lemon Popsicle" foi um estouro de bilheteria em Israel, enchendo o bolso da dupla que viu assim a chance de chegar a Hollywood. Em 1979 eles criaram a Cannon e começaram a produzir filmes de baixo orçamento direto em solo americano, com destaque para "Ninja - A Máquina Assassina", que tinha o italiano Franco Nero e o japonês Sho Kosugi lutando Kung Fu e que fez algum sucesso, mesmo sendo um longa rudimentar.

Uma vez que seus filmes eram lançados no exterior, as versões em VHS eram lançadas no Brasil pelo selo da América Vídeo Filmes, que por sua vez era uma empresa do Grupo Paris Filmes e da Warner Home Video, com apoio até do SBT, o Sistema Brasileiro de Televisão do titio Silvio Santos.

DÉCADA DE 80

A Cannon mirou seu foco em produções que priorizavam o gênero ação, e então veio uma verdadeira avalanche de produções. Começando com filmes que traziam Ninjas, uma moda na época. A vingança do ninja (1983), Ninja 3 - a dominação de 1984, ambos com o ator Sho Kosugi, eram o exemplo perfeito disso.


A chance de crescimento surgiu quando o produtor italiano Dino de Laurentiis desistiu da sequência de "Desejo de Matar" e vendeu os direitos para a Cannon. O próprio Menahem Golan queria dirigir, mas o astro Charles Bronson disse que somente faria o filme se a direção ficasse com seu amigo Michael Winner, que comandou o original. Bronson conseguiu seu objetivo e o filme fez sucesso.

No mesmo ano (1982), a Cannon teve outro sucesso com a refilmagem de "Lemon Popsicle", que foi rebatizado como "O Último Americano Virgem". O título sacana e as cenas de nudez fizeram o filme ser lançado por aqui apenas em 1984 com censura para dezoito anos.


Em 1985, a Cannon cruzou o caminho de ninguém mais ninguém menos do que ele, a lenda Chuck Norris, lançando Invasão USA (Invasion U.S.A.), repetindo a parceria com Comando delta 2 - conexão Colômbia (Delta Force 2: The Colombian Connection), lançado em 1990. Também não se pode deixar de citar a famosa série Braddock (Missing In Action) iniciada em 1984.

Outros filmes de mais expressão lançados pela produtora foram O massacre da serra elétrica 2(1986), A vingança de 1 predador (1986), que contava com o principal nome dos filmes de Ação B da época, Michael Dudikoff, o eterno American Ninja, da série Guerreiro americano (1985); Os Bárbaros (1987), uma cópia de Conan, o tenebroso Superman 4 (1987) e Mestres do Universo, também de 1987, onde Dolph Lundgren interpretava o ídolo da garotada, He-Man.


A partir daí a produtora passou a investir basicamente em três tipos de filmes que resultaram em poucos sucessos e diversos fracassos. O filmes de ação eram o foco principal, quase todos com baixo orçamento e encabeçados por um astro. Charles Bronson (outras três sequências de "Desejo de Matar" e vários longas policiais), Chuck Norris ("Invasão aos EUA", "Bradock I, II e III" e "Aventureiros do Fogo"), Michael Dudikoff  (a série "Guerreiro Americano - American Ninja") e Richard Chamberlaind ("As Minas do Rei Salomão" e "Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido"), sem contar diversos outros filmes ainda mais fracos.

O segundo tipo eram filmes que se seriam considerados de arte, como "Camorra" de Lina Wertmuller, o drama erótico "Berlin Affair" de Liliana Cavani, "Os Amantes de Maria" e "O Expresso para o Inferno" de Andrey Konchalovsky, "Louco de Amor" de Robert Altman e "Barfly" de Barbet Schroeder são os exemplos principais. São longas interessantes, porém todos deram prejuízo.

COMEÇO DO FIM

O terceiro estilo foi aquele que levou a produtora a falência nos anos noventa. Os filmes de ação que citei davam um razoável retorno nas bilheterias e um grande lucro no mercado de vídeo que estava em expansão na época. Provavelmente a ganância para aumentar o lucro e o ego da dupla de donos para transformar a produtora numa gigante, fizeram com que a Cannon começasse a investir em grandes produções e quebrasse.

Os primeiros grandes fracassos da produtora ocorreram em 1984, quando o drama político "O Embaixador" (último trabalho de Rock Hudson no cinema) e a horrorosa aventura "Bolero" dirigida por John Derek e estrelada por sua esposa, a "mulher nota mil" Bo Derek, naufragaram nas bilheterias.

No ano seguinte a ficção "Força Sinistra" até fez sucesso nos cinemas, porém o enorme orçamento que estourou várias vezes, principalmente pelos problemas com o diretor  Tobe Hooper, resultou num grande prejuízo. A produtora gastou muito dinheiro contratando profissionais do primeiro escalão de Hollywood para a parte técnica e para os efeitos especiais, que realmente se mostraram ótimos para época, porém a narrativa confusa deixou o filme aquém do potencial.


Em 1986 a situação melhorou para Cannon com dois sucessos de bilheteria. Golan conseguiu contratar Sylvester Stallone para a filmagem de "Cobra", que não é um grande filme, mas que fez sucesso. O outro acerto foi a aventura "Comando Delta", que era uma refilmagem turbinada de "Operação Thunderbolt" do mesmo Golan e que trazia um grande elenco encabeçado por Chuck Norris e pelo veterano Lee Marvin. Analisando friamente como cinema o filme tem muitas falhas, mas como diversão ele é ótimo. Como informação, esta mesma trama tem uma outra versão de 1976 chamada "Resgate Fantástico" que foi dirigida pelo também israelense Irvin Kershner.

Em contrapartida, outros três filmes caros da produtora fracassaram no mesmo ano. O policial "Nenhum Passo em Falso" de John Frankenheimer e outros dois trabalhos de Tobe Hooper, a ficção "Invasores de Marte" e a continuação de "O Massacre da Serra Elétrica". Estes péssimos trabalhos afundaram a carreira de Hooper e empurraram um pouco mais a Cannon para o buraco.


O ano de 1987 seria decisivo para a produtora, que arriscou muito dinheiro em várias produções ao mesmo tempo e fracassou miseravelmente. Seis filmes definem o que ocorreu com a Cannon. O drama sobre o Vietnã "Hanoi Hilton" e os filmes policiais "Armação Perigosa" e "A Marca do Passado" eram as apostas como filmes sérios, sendo que o último tinha roteiro do famoso dramaturgo Norman Mailler e foi levado a disputar o Festival de Cannes onde fracassou completamente.

Os outros três filmes foram aqueles que afundaram financeiramente a Cannon. A adaptação do desenho He-Man para o cinema chamada "Mestres do Universo" foi detonada pela crítica, assim como o equivocado "Superman IV - Em Busca da Paz" e para finalizar, , Menahem Golan e Yoram Globus, os cabeças da Cannon, viraram assunto na mídia por pagarem uma fortuna (cerca de 15 milhões de dólares) para Sylvester Stallone estrelar o filme "Falcão - O Campeão dos Campeões", cujo orçamento total ficou em 25 milhões (ou seja: Stallone embolsou sozinho a maior parte da grana!!!). Mas a carreira de "Falcão" nos cinemas foi um fiasco, e a bilheteria mal chegou aos 16 milhões de dólares.
.
Este foi o último ano relevante da produtora, que ainda produziu "O Último Dragão Branco" e "Cyborg - O Dragão do Futuro", os dois primeiros filmes de Van Damme que fizeram sucesso, principalmente em vídeo.


1990 - DO INFINITO PARA O ALÉM

Em 1989 a Cannon iniciou seu fim, terminando a parceria de vinte e cinco anos entre Menahem Golan e Yoram Globus. Golan criaria uma nova produtora no ano seguinte, a 21st Century Film Corporation que funcionou durante alguns anos sem produzir nada relevante.

A década de 90 começou boa , sendo que apenas em 1990, a produtora lançou três produções de relativo sucesso.  Lambada - a dança proibida (aproveitando outra moda da época), o já citado Comando Delta 2 e Garantia de morte (Death Warrant), com o astro de ação da época, Jean Claude Van Damme.


Mas a criatividade minguou. Comando delta já era o terceiro. American ninja o 5. E ainda rendeu dois subprodutos, American Samurai e American Cyborg, Devido ao fracasso de bilheteria de diversas de suas obras, e com isso, o estúdio, que chegou a ser o 7º maior do cinema mundial, fechou suas portas.  Consequentemente, a América Video Filmes, principal distribuidora da Cannon na América Latina, sentiu o golpe, e também fechou suas portas.

Como curiosidade, no auge da Cannon, a dupla de produtores chegou a ter em mãos os direitos de adaptação para o cinema de O Homem-Aranha, mas ainda bem que o projeto não saiu do papel, mesmo lembrando que em 1990, um ano após a falência da Cannon, Golan chegou a produzir e lançar em vídeo um longa de baixo orçamento sobre "O Capitão América".

É um triste final para as histórias tanto da Cannon como da América Vídeo, principalmente para os fãs saudosistas do VHS, que com certeza, não se esquecem das capinhas azuis e cheias de estrelas que envolviam os filmes distribuídos pela companhia.

VALE A PENA CITAR A FANTÁSTICA HISTÓRIA DO HOMEM ARANHA QUE NÃO ACONTECEU, QUE PASSEIA PELA HISTÓRIA DA PRÓPRIA CANNON ATÉ SEU FIM

O personagem criado por Stan Lee e Steve Ditko nos anos 60 estava praticamente implorando para virar filme. Até então, ele tinha ganhado sua própria série de desenhos animados (exibida entre 1967-1970), um seriado de TV live-action com 13 episódios chamado "The Amazing Spider-Man" (entre 1977-79), e até um seriado japonês chamado "Supaida-Man", que estreou em 1978 e teve um total de 41 episódios, mostrando o herói às voltas com monstros e ninjas - e sim, ele também tinha um robô-gigante tipo "Jaspion" e "Changeman".

Mas embora fizesse sucesso na TV e nos quadrinhos, o Homem-Aranha continuava inédito nos cinemas. Isso, claro, relevando-se a famosa picaretagem turca "3 Dev Adam", de 1973, que trazia Capitão América e El Santo enfrentando um Homem-Aranha malvado que, além do uniforme pobretão, em nada lembrava o personagem dos quadrinhos, muito menos lançava teias!


Mas eis que, em 1978, Richard Donner fez o mundo todo acreditar que o homem podia voar com "Superman - O Filme", que transformou-se numa referência para toda e qualquer aventura cinematográfica de super-heróis - e, com uma bilheteria monstruosa, atraiu a atenção de outros produtores, que passaram a investir em filmes baseados em personagens dos quadrinhos tão díspares quanto Flash Gordon e Popeye.

Ironicamente, o mesmo Super-Homem que mostrou que era lucrativo fazer filmes de super-heróis também comprovou o perigo de investir em adaptações de quadrinhos, quando o fracasso comercial de "Superman III", em 1983, deixou os grandes estúdios em alerta vermelho. A partir de então, as aventuras de super-heróis migraram para as produções de baixo orçamento, onde permaneceriam até o "Batman" de Tim Burton. 

E foi por volta dessa época que os nossos amigos da Cannon Films adquiriram os direitos para fazer sua própria versão cinematográfica do Homem-Aranha. A produção do filme começou a tomar corpo em 1984, quando a Cannon comprou uma página na Variety (famosa revista semanal especializada em cinema) e publicou o primeiro anúncio de "Spider-Man - The Movie", com produção executiva de James Galton e Joseph Calamari (Galton era presidente e Calamari um diretor da Marvel à época). 


O ARANHA DE TOBE HOOPER

Em 1984, Tobe Hooper era mais conhecido como um diretor de clássicos do horror, como "O Massacre da Serra Elétrica" e "Pague Para Entrar, Reze Para Sair". Mas também tinha fama de encrenqueiro e junkie (diz-se que fazia quilômetro de arrancada com cocaína nos bastidores das filmagens), e saiu brigado do blockbuster "Poltergeist - O Fenômeno" (1982), produzido por Steven Spielberg. Reza a lenda que Spielberg assumiu o comando do filme e dirigiu ele mesmo a maior parte.

Queimado em Hollywood, Hooper resolveu assinar um contrato para dirigir três filmes para a Cannon - e a produtora exigiu que um dos três fosse "O Massacre da Serra Elétrica 2". Sabe-se lá quem teve a ideia de jerico de colocar o sujeito para comandar o filme do Homem-Aranha, mas provavelmente Golan e Globus queriam aproveitar o fato de Tobe ter trabalhado com Spielberg em "Poltergeist".

Enfim, era um desastre anunciado, e foi. Mas a culpa dessa vez não era de Hooper...


Acontece que a Cannon contratou o roteirista Leslie Stevens para escrever a adaptação para o cinema. Stevens era um veterano da TV norte-americana, que produziu e escreveu seriados como "Quinta Dimensão" (The Outer Limits, 1963-1965) e "Buck Rogers" (1979-1981), mas nunca deve ter lido um único gibi do Homem-Aranha. Ao invés de seguir a linha dos quadrinhos, o sujeito resolveu dar sua própria visão do personagem, aproveitando apenas o nome do herói!

No roteiro de Stevens, Peter Parker seria um fotógrafo trabalhando para um poderoso laboratório chamado Zyrex Corporation. Seu diretor, o maligno Dr. Zyrex, faria experiências com Parker sem o consentimento do rapaz, bombardeando-o com raios radioativos. Quando uma inofensiva aranha entra na mistura, Parker sofre uma mutação estilo "A Mosca", transformando-se num monstro meio homem, meio tarântula, com oito patas (!!!). Zyrex convida o recém-criado "Homem-Aranha" para integrar seu exército de mutantes e dominar o mundo, mas ele prefere voltar-se para o lado do bem e combater o cientista e seus monstros, numa aventura que estava mais para "A Ilha do Dr. Moreau" do que para o Homem-Aranha que todo mundo conhece!

Hooper estava na pré-produção de dois outros filmes do seu contrato - o remake de "Invasores de Marte" e "O Massacre da Serra Elétrica 2" - quando começou a polêmica em torno do que seria o seu primeiro filme de super-herói. Um artigo da revista Cinefantastique sobre a adaptação de Homem-Aranha enfureceu os fãs do herói e o próprio co-criador do personagem, Stan Lee, que exigiu mudanças no roteiro para ficar minimamente parecido com os gibis.

Preocupados com a repercussão negativa, Golan e Globus voltaram à estaca zero: demitiram Leslie Stevens e chamaram Ted Newsom (que até então havia escrito apenas roteiros de filmes pornográficos!) e John D. Brancato para escrever um novo roteiro usando ideias do próprio Stan Lee. Só que, enquanto o novo roteiro era escrito, foi Tobe Hooper quem desligou-se do projeto. Seu terceiro filme para a Cannon acabou sendo "Força Sinistra", adaptação do livro "Space Vampires" que, num primeiro estágio de produção, seria dirigida pelo italiano Luigi Cozzi! Apesar de divertidíssimo, "Força Sinistra" foi outro naufrágio financeiro para a produtora: custou 25 milhões e rendeu apenas 11 milhões nos cinemas...

O ARANHA DE JOSEPH ZITO

O Homem-Aranha da Cannon estava sem diretor, mas pelo menos tinha um roteiro novo, escrito a quatro mãos por Newsom e Brancato a partir dos pitacos de Stan Lee. Era bem mais fiel ao personagem dos gibis do que aquela aberração anterior, mas tomava algumas liberdades poéticas em relação à origem do Homem-Aranha: Peter Parker seria aluno do cientista Otto Octavius, o Dr. Octopus, e ambos ganhariam seus poderes a partir de um acidente no laboratório do mentor do herói.

A partir de então, enquanto Octopus inicia sua carreira de crimes, o jovem Peter aproveita seus novos poderes primeiro numa exibição de luta-livre com Hulk Hogan (!!!), depois participando do "The Tonight Show with David Letterman" - e sim, as duas celebridades estavam cotadas para aparecer no filme! Então seu Tio Ben seria morto pelo mesmo bandido que ele deixou escapar horas antes, fazendo surgir um Homem-Aranha bem fiel aos gibis.

Vários personagens e situações dos quadrinhos já apareciam nesse roteiro, como o valentão da escola, Flash Thompson, que abusava de Peter Parker, mas ao mesmo tempo era fã do Homem-Aranha. E, claro, o editor-chefe do Clarim Diário, patrão e arquiinimigo do herói, J. Jonah Jamenson - que, vejam só, seria interpretado pelo próprio Stan Lee!


Mas o detalhe mais interessante deste roteiro era em relação ao interesse romântico do herói. Nem Gwen Stacy, nem Mary Jane Watson: Newtom e Brancato optaram por colocar Liz Allen que, nos gibis, foi o primeiro interesse romântico de Peter Parker! Ignorada em todas as outras adaptações para o cinema, ela era namorada de Flash Thompson e apareceu já nas primeiras aventuras do Aranha, entre 1962-1965, mas nunca chegou a realmente namorar Peter - pelo contrário, mais tarde ela acabou se casando com seu amigo, Harry Osborn!

Numa entrevista recente, Ted Newsom comentou a decisão de colocar Liz como interesse romântico do herói: "Nós não escolhemos Liz Allen, John e eu originalmente queríamos Gwen Stacy, e o filme terminaria com a sua morte nas mãos do Duende Verde e tudo mais. Mas Stan era totalmente contra isso, e ele queria usar o Dr. Octopus como vilão. Depois de Gwen, Liz Allen era nossa única escolha, porque Mary Jane não era a pessoa certa para Peter naquele momento. Seria como se Raquel Welch com 40 anos se apaixonasse por um moleque de 14 anos. Mary Jane conhece Peter na fase certa nos quadrinhos, mas antes disso ele não teria nenhuma chance com uma gata como ela. Assim, nossa Liz era o tipo de garota pela qual todo mundo ficaria atraído no colégio: bonita, mas não linda demais, inteligente e divertida".
O roteiro também foi aprovado pelo presidente da Marvel e produtor executivo James Galton, que, numa carta timbrada a Cannon, escreveu: "O script é soberbo. A esse ponto eu já li uns 12 roteiros e tratamentos para filmes do Homem-Aranha, mas esse é de longe o melhor!".

(Na mesma carta, Galton reclama de um outro projeto que estava sendo tocado pela Cannon na época e que não saiu do papel: o filme do Capitão América, que seria dirigido por Michael "Desejo de Matar" Winner. Galton queixou-se que o roteiro de Winner e Stan Hey era "bloody awful", decretando a morte prematura da produção.)

Com Tobe Hooper abandonando a cadeira de diretor, a Cannon resolveu chamar outra das suas galinhas dos ovos-de-ouro para comandar o filme do Aranha: Joseph Zito, de "Sexta-feira 13 Parte 4", cujos trabalhos anteriores para a produtora ("Braddock - O Super Comando" e "Invasão USA", ambos com Chuck Norris) custaram pouco e renderam uma boa grana.

Como curiosidade, o visionário Zito tinha colocado um trecho do velho desenho animado do Homem-Aranha numa cena em que Chuck Norris assistia TV em "Braddock", um ano antes de ser chamado para dirigir a versão live-action do herói!

O filme começou a tomar forma, novamente com James Galton e Joseph Calamari como produtores executivos. O dublê Scott Leva foi contratado para interpretar Peter Parker e o Homem-Aranha, e o inglês Bob Hoskins seria o Dr. Octopus. Embora Hoskins nunca tenha sido oficialmente contratado, Leva chegou a fazer fotos de divulgação vestindo o uniforme do Aranha, e uma delas foi usada na capa da revista "The Amazing Spider-Man" nº 262, de março de 1985 , atiçando ainda mais a curiosidade dos fãs.


A pré-produção não parou por aí: Zito escolheu estúdios na Itália e na Inglaterra para rodar o filme, e contratou os renomados ilustradores Mentor Huebner e Nikita Knatz para desenhar os storyboards. Foram feitos testes de efeitos especiais para ver como ficariam os movimentos do Homem-Aranha balançando em suas teias e dos tentáculos do Dr. Octopus. Também foi produzido um teaser trailer que não mostrava muita coisa além do uniforme do herói, anunciando "Joe" Zito como diretor.

A Cannon gastou 1,5 milhão de dólares só nessa etapa de pré-produção do filme, e tudo indicava que agora o Aranha sairia dos gibis para o cinema. Tanto que a produtora chegou a comprar duas páginas na edição de outubro de 1985 da Variety para divulgar "Spider-Man - The Movie". 

Mas aí recomeçaram os problemas: o roteiro já estava pronto e aprovado, mas Zito resolveu chamar seu amigo Barney Cohen (que escreveu "Sexta-feira 13 Parte 4") para "polir" o trabalho de Newsom e Brancato. Aí o próprio produtor Menahem Golan, usando o pseudônimo "Joseph Goldman", aproveitou para mexer no roteiro também, dando origem a um segundo tratamento que ficou pronto em 1986.

As principais mudanças em relação ao roteiro anterior é que o Dr. Octopus ganhou uma expressão característica ("Ookey-dookey", repetida toda hora) e um capanga chamado Weiner, que seria o responsável por matar o tio de Peter Parker. O herói também foi representado de uma maneira mais "dark" e violenta, inclusive surrando o rival Flash Thompson quase até a morte numa cena!


A Cannon já tratava "Spider-Man - The Movie" como seu principal lançamento de 1986, marcando a data de lançamento para o Natal daquele ano. Foram produzidos teaser posters e banners anunciando a chegada do Homem-Aranha aos cinemas em "Christmas 86", mas então um novo empecilho emperrou de vez a produção: os problemas financeiros que a pequena produtora enfrentava na época.

Como outros filmes de super-heróis feitos nos anos anteriores tinham dado prejuízo (entre eles o péssimo "Supergirl", em 1984), Golan e Globus achavam arriscado investir entre 15 e 20 milhões numa aventura do Homem-Aranha (era esse o orçamento previsto inicialmente). Eles precisavam de um outro projeto que fosse garantia de bom retorno nas bilheterias, e cujo lucro pudesse ser depois investido no filme do Aranha. 

Ironicamente, a opção foi por "Superman IV - Em Busca da Paz"! A Cannon torrou 17 milhões, um valor expressivo na época, para colocar Christopher Reeve em sua quarta aventura como Super-Homem. Mas o resultado foi um fracasso: o filme arrecadou pouco mais de 15 milhões nas bilheterias, colocando a saúde financeira da produtora praticamente em coma. 

No mesmo ano de 1987, outra cacetada: a Cannon investiu US$ 22 milhões em "Mestres do Universo", versão live-action do desenho animado do He-Man, estrelada por Dolph Lundgren. Tinha tudo para ser um sucesso, mas os fãs do desenho não engoliram a produção barateira - que, entre outras mudanças, transferia os personagens para o planeta Terra para economizar em cenários e figurinos. A resposta nas bilheterias ficou em 17 milhões, bem abaixo do custo do filme.

Com duas decepções em tão pouco tempo, ainda mais considerando que eram produções relativamente caras, os cofres da Cannon Films sofreram danos irreparáveis. E o filme do Aranha, claro, foi abortado pela segunda vez.

O ARANHA DE ALBERT PYUN

Em 1987, a Cannon perdeu temporariamente os direitos sobre o Homem-Aranha para a New World Pictures, mas a pequena produtora também não conseguiu levar o herói para os cinemas. Golan e Globus não desistiram e compraram de volta os direitos. "Spider-Man - The Movie" voltou a ser a menina-dos-olhos da Cannon em 1988. Albert Pyun foi o terceiro diretor contratado para levar o aracnídeo aos cinemas, e teria um orçamento irrisório de 10 milhões de dólares para cumprir a tarefa. 

Mais tarde, os produtores resolveram filmar "Spider-Man" e "Mestres do Universo 2" ao mesmo tempo e reutilizando os mesmos cenários para economizar, e as duas aventuras seriam dirigidas "back-to-back" por Pyun!O diretor chegou a dar entrevistas falando sobre a adaptação do Aranha - uma delas publicada na revista Cinefantastique em 1988. Ele chamou o ator Don Michael Paul para escrever um novo roteiro, já que a história com o Dr. Octopus jamais poderia ser filmada com um orçamento tão baixo.

A essa altura, os executivos da Marvel já tinham deixado a produção executiva, que ficou com Tom Karnowski, o produtor habitual dos filmes baratos de Albert Pyun. A nova aventura do Homem-Aranha seguiria os passos da anterior, narrando a origem do herói, mas com um vilão "original": o cientista Russell Tanner, que se transformava num híbrido de humano e morcego chamado The Night Ghoul.

Enquanto Don Michael Paul escrevia seu roteiro, os produtores publicaram sobre a pré-produção do filme na Variety de 24 de outubro de 1988. Meses depois, a revista fez uma reportagem sobre a obra e inclusive entrevistou Stan Lee, que falava otimista sobre a adaptação.


O problema é que quando o novo script ficou pronto, os produtores perceberam que este também tinha fugido do clima dos gibis - era uma história cheia de sangue e violência. Decidiram chamar às pressas Shepard Goldman (roteirista de "Salsa - O Filme Quente") para "corrigir" o script, dando um tom mais leve e censura livre à trama. Goldman acabou creditado como único roteirista em alguns materiais de divulgação, tal a quantidade de alterações que fez no script original de Don Michael Paul.

Apesar de nem haver um roteiro definitivo, a Cannon continuava marcando o "lançamento" do filme, dessa vez para o Natal de 1989. Mas precisou baixar ainda mais o orçamento, obrigando Pyun a buscar um novo roteiro. Dessa vez foi Ethan Wiley (diretor-roteirista de "A Casa do Espanto 2"!) quem assumiu a bronca, dando origem a mais uma história sem pé nem cabeça, à altura daquela criada por Leslie Stevens lá em 1984.

Olha só : Peter Parker seria um pobre estudante de ciências vivendo no Queens, bairro pobre de Nova York, e que trabalha como pupilo para um cientista louco. Este cria uma poderosa droga batizada T-Devil, que vende para a Máfia. O entorpecente dá superpoderes aos usuários (!!!), mas seu consumo constante provoca a explosão do coração do infeliz! Finalmente, durante uma experiência frustrada, tanto o cientista quanto Peter ganham superpoderes: ele vira o Homem-Aranha, e o vilão uma mistura de homem e escorpião, que seria combatido pelo novo herói!

Até essa altura, o dublê Scott Leva continuava sendo sondado para viver Peter Parker/Homem-Aranha na telona. Ele leu todas as versões do roteiro feitas desde 1985, e, num artigo publicado pela revista Starlog em 2002, intitulado "The Man Who Was Almost Spider-Man", declarou: "O roteiro de Ted Newsom e John Brancato era bom, mas ainda precisava de alguns detalhes. Infelizmente, ele foi reescrito por outros roteiristas tantas vezes que foi do bom para o ruim, até chegar ao terrível!".

A Variety de 22 de fevereiro de 1989 traz mais uma vez o filme do Aranha como "futuro projeto" da Cannon, com data de início das filmagens marcada para março daquele ano, ao lado de outros filmes que realmente foram produzidos, como "De Volta Para o Futuro 2".Aí veio o golpe de misericórdia: tanto a empresa de brinquedos Mattel (que tinha os direitos sobre He-Man) quanto a Marvel rescindiram o contrato com a Cannon devido aos problemas financeiros da produtora, e a filmagem conjunta de "Mestres do Universo 2" e "Spider-Man - The Movie" foi cancelada de vez.

E como Pyun já havia gasto bastante dinheiro na pré-produção dos dois filmes, foi contratado para dirigir "Cyborg - O Dragão do Futuro", com Van Damme, praticamente de graça, usando cenários, figurinos e objetos de cena produzidos originalmente para as aventuras do He-Man e do Homem-Aranha! 

Esse acabou sendo o último filme da Cannon a chegar aos cinemas, já que a produtora pediu falência no final da década de 80.

O ARANHA DE JAMES CAMERON

No mesmo ano de 1989 em que a Cannon cancelou a produção do filme do Aranha, o "Batman" de Tim Burton estreou arrebentando a boca do balão e mostrando que aventuras inspiradas em heróis dos quadrinhos ainda podiam ser lucrativas. Afinal, a Warner faturou mais de 410 milhões de dólares no mundo todo com um filme que custou "apenas" US$ 35 milhões (calcule aí o lucro).

A Cannon já não existia mais a essas alturas, mas um de seus sócios, Menahem Golan, criou a 21st Century Film Corporation e achava que aquele era o momento certo para emplacar seu "Spider-Man - The Movie". Ele jogou no lixo todos aqueles scripts horríveis de baixo orçamento e recuperou o roteiro que Newsom e Brancato escreveram lá atrás em 1985 - aquele com o Dr. Octopus como vilão.


Em maio de 1989, no Festival de Cannes, Golan disse que começaria a filmar em setembro e conseguiu vender os direitos para lançamento doméstico, que ficaram com a Columbia Pictures. Através dela, o diretor Stephen Herek ("Criaturas") chegou a ser cogitado para comandar a adaptação. Mas o estúdio pediu algumas alterações no script. Dois roteiristas foram contratados e entregaram seus tratamentos: primeiro Frank LaLoggia (diretor-roteirista de "A Dama de Branco"), depois Neil Ruttenberg (roteirista de "Deathstalker 2").

Enquanto isso, Golan não parava de publicar anúncios na Variety sobre a suposta "pré-produção" da aventura, numa tentativa de tentar atrair possíveis investidores. O primeiro anúncio saiu em 1990, e dizia: "1990 - O ano do Homem-Aranha!". O segundo é de 1991, e anuncia como roteiristas Ruttenberg e "Joseph Goldman" (o próprio Golan), além da produção executiva de Stan Lee e Joseph Calamari (de volta ao projeto depois da "fase Pyun").

O máximo que Golan conseguiu dessa vez foram alguns testes de efeitos especiais realizados em 1990 pela empresa canadense Light and Motion e pelo animador em stop-motion Steven Archer, que trabalhara em "Krull" e "Fúria de Titãs".


Vencido pelas dificuldades de trabalhar com baixo orçamento, Golan desistiu do Aranha e partiu para a produção daquela aventura do Capitão América que também vinha tentando fazer desde os anos 80, e que seria bem mais fácil porque envolvia um herói mais humano, sem exigir grandes efeitos especiais. O resultado foi aquele trash dirigido por Albert Pyun em 1990, com Matt Salinger no papel principal.

Já os direitos sobre o Homem-Aranha passaram para uma outra companhia, a Carolco de "Rambo 3", "O Vingador do Futuro" e "O Exterminador do Futuro 2". E, graças à mudança de casa, um certo James Cameron acabou se interessando pelo projeto.

Cameron resolveu escrever o seu próprio filme do Homem-Aranha, e enviou um pré-roteiro com 47 páginas para os executivos da Carolco em 1991. Esse tratamento conta a origem do herói e traz dois vilões de uma só vez, Electro e Homem-Areia (algo que depois viraria moda nos filmes de super-heróis).

Mas Cameron não se manteve tão fiel aos gibis, preferindo criar a sua própria versão da origem. O filme terminaria com uma batalha épica no topo do World Trade Center, quando Peter Parker revelaria a Mary Jane que era o Homem-Aranha.


Embora o argumento tenha sido bastante elogiado à época, os produtores discordavam do tipo de aventura que Cameron pretendia fazer. Eles queriam um filme censura livre e divertido para a garotada, mas o pré-roteiro do diretor tinha violência, um Homem-Aranha que falava palavrões (inclusive xingando os vilões de "filho da puta") e até uma cena de sexo entre Parker e Mary Jane!

Com o andar da carruagem, o projeto começou a ser revisado. A Carolco anunciou nas páginas da Variety a pré-produção de "Spider-Man - A James Cameron Film", e o diretor de "Titanic" chegou até a mexer naquele antigo roteiro de Newsom e Brancato, anunciando que gostaria de ter Arnold Schwarzenegger como Doutor Octopus.

Mas aí foi a vez da Carolco falir, e com ela o Homem-Aranha acabou perdido nas teias da burocracia, passando de um estúdio a outro, numa trajetória longa e complicada demais para resumir aqui. Parecia até um projeto amaldiçoado, e, como tal, ninguém mais quis gastar dinheiro com ele. Até a Columbia/Sony finalmente produzir o "Homem-Aranha" de Sam Raimi em 2002, quase 20 anos depois da primeira concepção de uma aventura cinematográfica do herói. 

Coincidentemente, Raimi também era um diretor associado ao cinema de horror, como Tobe Hooper, que foi a primeira escolha para dirigir o filme do Aranha lá atrás, em 1984...O resto é história: se a Cannon suava para juntar uns 20 milhões para poder fazer o seu "Spider-Man - The Movie", a Columbia transformou a primeira aventura do herói num blockbuster de US$ 139 milhões, que arrecadou, no mundo inteiro, assombrosos 821 milhões de dólares!

PS: Não sei se foi coincidência do destino ou proposital, mas James Cameron dirigiu "Aquaman" na série Entourage, enquanto Arnold foi Mr. Freeze em Batman, ambos se tornando assim, diretor de um filme de herói e vilão, respectivamente, ideal este do diretor para o Spiderman para a Carolco.

Detalhe: estas informações dos filmes do teioso foram retiradas do ótimo blog Filmes para doidos, que hora está no ar, hora não. Ano está no ar, ano não...Mas quando está, vale muito a pena gastar um tempo lendo os textos gigantes do autor, Felipe M. Guerra.


Tecnologia do Blogger.