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O QUE É FILME NOIR?


ORIGEM

Em 1946, o crítico francês Nino Frank identificou semelhanças estéticas em filmes norte-americanos dos anos 1930 e 1940 e os batizou de filmes noir (do francês, filme preto). Estes filmes teriam surgido no final da década de 30, pouco tempo depois da crise da bolsa em 1929, como um reflexo da recessão que assolava os EUA e criava um ambiente propicio para o crime. Os jovens críticos franceses da revista Cahiers du Cinema (entre eles Godard e Truffaut) adoraram o termo e passaram a utilizá-lo com frequência, levando o conceito de film noir para os EUA, onde eram muito respeitados.


Com forte influência do expressionismo alemão, o filme noir apresenta uma estética formalista que subverte a realidade para expressar visualmente os sentimentos de autores e/ou personagens, neste caso através dos ambientes sombrios, que, paradoxalmente, situavam-se em lugares realistas, normalmente em grandes cidades, mas sempre num submundo repleto de sujeira e cinismo. Personagens ambíguos e de caráter duvidoso, como os detetives e as femmes fatales, são típicos do universo noir.

Com seus longos sobretudos cinzentos, chapéus, cigarros no canto da boca e copo de uísque na escrivaninha, os detetives são marca registrada do gênero, mas ventiladores que circulam o ar nos escritórios, femme fatales, policiais corruptos e gatos caminhando entre latas de lixo também são elementos visuais que remetem à estética noir.

PRIMEIRO FILME?

Historiadores consideram “O Homem dos Olhos Esbugalhados”, de 1940, como o primeiro film noir e “A Marca da Maldade”, de 1958 (e dirigido por Orson Welles) como o último filme do período clássico. Desde então, de tempos em tempos surgem filmes que remetem à estética noir ou, de alguma forma, homenageiam o gênero, como “Chinatown”, em 1974, “Coração Satânico”, em 1987, “Los Angeles – Cidade Proibida”, em 1997, e “Sin City, a Cidade do Pecado”, em 2005. Entre os destaques do período clássico, “O Falcão Maltês” é considerado o filme que estabeleceu a conexão entre o cinema e a literatura noir, por ter sido baseado no livro homônimo de Dashiell Hammett. Hammett, aliás, faz parte da lista de escritores que influenciaram o noir nos Estados Unidos, oriundos da escola literária de ficção policial e de detetives, ao lado de Raymond Chandler e James M. Cain, popularizado em revistas como “Black Mask”.


A temática do cinema noir hollywoodiano é cercada pela problematização do mal-estar americano pós-guerra (criticando a corrupção de valores éticos e da brutalidade e hipocrisia nas relações humanas, de classe e de instituições e explorando as desconfianças entre masculino e feminino, gerada pela desestabilização dos papéis sexuais durante a guerra); pela individualidade psíquica e socialmente desajustada; pela atmosfera cruel, paranoica e claustrofóbica. Do ponto de vista narrativo, vê-se a complexidade das tramas e o uso do flashback (que serviam para desorientar o espectador), a narração em over do protagonista masculino, a falta de confiança entre os personagens, a perda da inocência, um cenário hostil, uma sensação de desespero, não linearidade.

Do ponto de vista estilístico, pode-se citar a iluminação low-key (com profusão de sombras), o emprego de lentes grande-angulares (deformadoras da perspectiva) e o corte do big close-up para o plano geral em plongée (este, o enquadramento noir por excelência). Além disso, o uso de objetos como espelhos, janelas, escadas e relógios (que remetem ao tempo, à fuga, ao reflexo indesejado), a ambientação à noite (TSC – as ruas escuras e úmidas das metrópoles criavam o cenário perfeito para os acontecimentos aterrorizantes e a atmosfera de desconforto do cinema noir) o uso de palavras específicas nos títulos (night, city, street, dark, lonely, mirror, window, killing, Kiss, death, panic, fear, cry).

MOMENTO NA HISTÓRIA

O cinema noir era, também, um reflexo da sociedade e dos acontecimentos da época. A ansiedade a respeito da Segunda Guerra Mundial (e, mais tarde, em relação à Guerra Fria) era muito comum. Em Relíquia Macabra, por exemplo, mesmo que tenha sido filmado antes da guerra, nota-se a tensão que o clima na Europa já fazia refletir no mundo todo e em O Terceiro homem (1949), de Carol Reed, vê-se uma Viena (como referência à Europa) afundada no caos do pós-guerra. Com seus anti-heróis clássicos e suas femmes fatales incomparáveis, o cinema noir serviu como uma reação aos musicais e comédias românticas hollywoodianos da época.


Entre aqueles personagens masculinos e femininos, pode-se verificar uma problematização dos gêneros e da sexualidade, evidenciando-se intensa rivalidade entre o masculino e o feminino. Isso tudo vinha em decorrência das modificações dos papéis sexuais durante a mobilização militar e da disputa de mercado de trabalho, o que trazia uma ansiedade com relação à existência e à definição da masculinidade e da normalidade. Nesse contexto, verifica-se um tipo de homem muito comum no cinema noir: raramente bonzinhos (geralmente são anti-heróis), são cínicos, impiedosos, nada sentimentais, sempre querem levar a vantagem. 

Homens solitários, inseguros, desiludidos, incertos quanto ao próprio caráter e apáticos quanto ao futuro; e dois tipos de mulheres: são dóceis e amáveis ou são femmes fatales (deslumbrantes, misteriosas, ambíguas e dispostas a qualquer coisa pra saírem por cima). Em Um Corpo que Cai, por exemplo, a amiga do protagonista representa o primeiro tipo, a mulher que o protagonista deve vigiar representa o segundo tipo. Metaforicamente, a femme fatale é a personificação da independência alcançada pela mulher durante a Segunda Guerra, ao mesmo tempo em que as mulheres simbolizam as tentações e os perigos da domesticação do herói.


Além das mulheres, vale apontar Um Corpo que cai como um bom exemplo do cinema noir em cores. A história, por exemplo, gira em torno de um homem e seus problemas psicológicos, tanto em relação às mulheres a sua volta, quanto em relação aos seus medos e anseios. O tema dos conflitos internos do homem, como foi apontado, é muito recorrente nos filmes noir. As vertigens do protagonista são uma forma de confundir o espectador, bem como as histórias que giram em torno da protagonista (os problemas psicológicos da mulher e sua morte, por exemplo). 

A moralidade por trás do filme também deve ser apontada: a personagem de Kim Novak foi contratada por um homem para enganar o personagem de James Stewart, entretanto, ela se apaixona por ele e os sentimentos começam a se tornar ambíguos. O que a personagem deve fazer? Cumprir com o combinado e não deixar que Stewart a descubra, ou revelar sua paixão por ele e contar toda a verdade? Os ambientes do longa também são característicos dos filmes noir: ambientes urbanos contemporâneos (casa dos personagens centrais) e locações exóticas (mosteiro onde a personagem de Kim Novak “morre”). A fotografia em cores não saturadas é outro exemplo do cinema noir, bem como o uso de cores mais neutras.

NEO - NOIR

Na década de 1960, cineastas como Sam Peckinpah, Arthur Penn, Robert Altman criaram filmes inspirados nos filmes noirs originais. Em The Long Goodbye, o detetive criado por Altman é apresentado como um idiota azarado que não consegue evitar sua derrota numa batalha moral. Talvez o mais bem sucedido filme neo-noir tenha sido Chinatown (Filme) (1974), de Roman Polanski.

Muitos dos filmes de Joel e Ethan Coen são exemplos de filmes influenciados pelo subgênero noir, especialmente O homem que não estava lá e Gosto de Sangue, além da comédia O grande Lebowski. O homem que não estava lá apresenta uma cena que parece ter sido filmada de maneira similar a uma cena de Out of the past. Os irmãos Cohen também acrescentaram diversos elementos de film noir, tanto na filmagem quanto no roteiro de Fargo. Alguns críticos consideram-no um clássico moderno do gênero. O aclamado Los Angeles: Cidade Proibida, de Curtis Hanson (adaptado do romance de James Ellroy) pode ser o filme que mais se aproxima do film noir moderno, com suas histórias de policiais corruptos e femmes fatales que parecem ressurgidos dos anos 50.

O ponto-de-vista cínico e pessimista do film noir influenciou fortemente os criadores do gênero cyberpunk de ficção científica no início dos anos 1980, sendo Blade Runner e o japonês Akira os mais conhecidos filmes deste gênero. Uma mistura de film noir e cyberpunk também é chamada de tech-noir. Os personagens destes filmes são geralmente derivados de filmes de gangsters dos anos 30 e de revistas em quadrinhos. Outros exemplos de ficção científica noir são Gattaca, The Thirteenth Floor, Ghost in the Shell, Dark City, e Minority Report.


Alguns consideram que os filmes de David Lynch têm forte influência noir, principalmente Blue Velvet, Lost Highway e Mulholland Drive.

Alguns trabalhos recentes com uma veia noir incluem filmes como Cães de aluguel (1992), Chicago (2002), Fargo (1996), Kiss Kiss, Bang Bang (2005), e A Simple Plan (1998); a série de video game Max Payne, os jogos Heavy Rain e The Wolf Among Us , o remake de "Insônia", de Christopher Nolan e o suspense Dália Negra, de Brian De Palma. Também de Christopher Nolan, Amnésia e Batman Begins são considerados exemplos de neo-noir, assim como o filme Sin City, filmado em preto-e-branco, com alguns elementos em cores.

Com a estreia do seriado de TV Veronica Mars (2003), e do filme Brick (2006), o noir ganha uma nova vertente, batizada (e aplaudida) por críticos como teen-noir, uma reinvenção do gênero como expressão das angústias do universo adolescente.

INFOGRÁFICO BÁSICO

O que é filme noir?
  • A expressão francesa film noir (em português, 'filme negro') designa um subgênero de filme policial que teve o seu ápice nos Estados Unidos , entre os anos 1939 e 1950.
  • A expressão foi aplicada pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank, em 1946, por analogia com os romances policiais da Série noir, uma coleção criada pela Gallimard, em 1945, cujos livros tinham capa preta e amarela, com sobrecapa preta e bordas brancas. A expressão era desconhecida dos diretores e atores à época em que foram produzidos os filmes noirs clássicos, tendo sido introduzida posteriormente por historiadores e críticos de cinema. Muitos dos criadores de filmes noirs revelaram mais tarde que não imaginavam, naquela época, que haviam dado origem a um subgênero cinematográfico.
  • O film noir deriva dos romances de suspense da época da Grande Depressão (muitos foram adaptados de romances policiais do período) e da estética dos filmes de terror da década de 1930. Os primeiros noirs apareceram no começo da década de 1940. Historicamente, foram filmados em preto-e-branco em alto contraste, sob influência da cinematografia do expressionismo alemão.

Principais características
  • Sem efeitos especiais - câmera na mão, plano seqüência, som direto;
  • Planos de conjunto e médios. Imagem acinzentada. Filmagem em cenários reais (ruínas da guerra);
  • Roteiros improvisados, atores não-profissionais;
  • Montagem sem efeitos particulares;
  • Opunha-se ao cinema-espetáculo.
  • Enfoque nas questões sociais - gênero quase documental ;
  • Personagens incorporam as dúvidas e incoerências humanas, deixam de ser ambivalentes para serem bons e maus ao mesmo tempo;
  • Fragmentação da narrativa e do narrador ;
  • Até os anos 40 muito presos a questões sociais; depois, novas propostas narrativas, questões familiares ou individuais.

Diretores referência

Edgar G. Ulmer, Jules Dassin, Edward Dmytryk, John Farrow, Samuel Fuller,Henry Hathaway, Alfred Hitchcock, John Huston, Phil Karlson, Fritz Lang, Joseph H. Lewis , Anthony Mann, Otto Preminger, Nicholas Ray, Robert Siodmak, Orson Welles, Billy Wilder, Robert Wise


LISTA DE REFERÊNCIA

FALCÃO MALTÊS (1941)

O filme se passa na cidade de San Francisco, onde Sam Spade (Humprey Bogart) é detetive, num escritório com seu parceiro, Miles Archer. A história tem início quando uma bela mulher (Mary Astor) solicita os serviços da dupla para seguir Floyd Thursby, e Miles o faz. No meio da noite, Spade é acordado com o seguinte telefonema: sua dupla havia sido assassinada. Com a morte de Thursby na mesma noite, a polícia vê Spade como principal suspeito. E a trama enriquece quando o misterioso Joel Cairo (Peter Lorre) solicita os serviços de Spade para encontrar uma relíquia há muito perdida.


PACTO DE SANGUE (1944)

Numa visita de trabalho, o agente de seguros Walter Neff conhece a atraente (e casada) Phyllis Dietrichson. Eles logo se apaixonam e Phyllis o convence a elaborar um plano para assassinar seu marido, depois desse fazer um seguro de acidente pessoal. O objetivo? Ficar com o dinheiro do seguro. Mas nem tudo dá certo.
Indicado a 7 Oscar, incluindo melhor filme e atriz; Pacto de Sangue tem inúmeras qualidades, como o excelente roteiro do escritor Raymond Chandler (À Beira do Abismo), a femme fatale Barbara Stanwyck e a direção magistral de Billy Wilder.


LAURA (1944)

Investigando a morte da diretora de uma agência de propaganda, Laura Hunt (Gene Tierney), que teve o rosto destruído por tiros de espingarda, o detetive Mark McPherson (Dana Andrews) interroga Waldo Lydecker (Clifton Webb), seu mentor e um influente jornalista, que considerava Laura não apenas sua maior "criação" mas também sua propriedade pessoal. Laura estava noiva de Shelby Carpenter (Vincent Price), um playboy, para desgosto de Lydecker e da tia de Laura, Ann Treadwell (Judith Anderson), uma mulher rica que era apaixonada por Carpenter. Enquanto a investigação evolui McPherson sente-se atraído pela vítima e, ao ir ao apartamento dela em busca de provas, contempla uma pintura de Laura pendurada na parede. Repentinamente acontece o inesperado, pois Laura surge na sua frente viva e com o rosto sem nenhum ferimento.


À BEIRA DO ABISMO (1946)

Humprey Bogart é o detetive particular Philip Marlowe, que se vê numa delicada situação ao ser contratado por Carmen (Martha Vickers), a jovem filha do General Sternwood (Charles Waldron). O trabalho é ser responsável pela segurança da família, mas Marlowe imediatamente se apaixona pela irmã de Carmen, Vivien (Lauren Bacall) - ainda que no início a moça não tenha simpatizado com o detetive.


SEGREDO DAS JÓIAS (1950)

Após passar muitos anos na prisão, Doc, aparentemente reabilitado, decide dar um último golpe. Suas tentativas de reunir a velha gangue vêm contra as intenções do seu sócio, que pretende começar no Kentucky uma fazenda de criação de cavalos com a sua parte do que renderia o roubo.


RIFIFI (1955)

Tony Stephanois acabou de sair da prisão e está irritado por causa da infidelidade de sua garota. Ele resolve se juntar a seus colegas, Jo e Mario, no planejamento de um ambicioso assalto a uma joalheria. Cercado de uma execução meticulosa, as coisas começam a dar erradas quando um dos integrantes do grupo comete um erro no momento em que tudo estava quase terminado...


IMPÉRIO DO CRIME (1955)

Tenente recebe ordens para interromper a excessivamente custosa investigação sobre um criminoso, pelo qual está obcecado. Numa última tentativa de capturar o bandido ele se aproxima de sua namorada.


MARCA DA MALDADE (1958)

Desfrute a atemporal obra-prima de Orson Welles, completa e sem cortes, em versão restaurada. Este film-noir é um retrato excepcional da corrupção e obsessões morais, estrelado por Welles como Hank Quinlan, um chefe de polícia desonesto que arma uma cilada para um jovem mexicano como parte de uma intricada trama criminosa. Charlton Heston é um honrado investigador mexicano de narcóticos que se choca com o intolerante Quinlan após investigar seu condenável passado. Um inesquecível elenco de apoio, incluindo Janet Leigh como a curiosa esposa de Heston, Akim Tamiroff como um chefe do submundo, Zsa Zsa Gabor e Marlene Dietrich como uma enigmática cigana neste fascinante drama, de extraordinária fotografia e uma magnífica trilha sonora de Henry Mancini.



ACESSE À LISTA "200 FILMES NOIR QUE DEVE ASSISTIR ANTES DE MORRER"


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