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O QUE FOI O TERROR GÓTICO ITALIANO


De uma forma bem simplista, se hoje falamos sobre góticos, veem à mente pessoas que gostam de sair de noite, geralmente vestidos de preto. Na realidade, esta denominação é uma subcultura urbana, que surgiu no final da década de 70, início dos anos 80 na Europa. Foi um misto do punk com o movimento da contracultura. 

No cinema, quando pensamos em cinema gótico, vem a mente imediatamente os filmes do diretor Tim Burton. Estas duas formas de representação do gótico são apenas formas rasas para entender o que era realmente o Gótico e sua importância na formação cultural de uma época. 

Hoje vamos falar sobre o que foi o Terror Gótico Italiano. E para entendê-lo, vamos começar falando sobre as origens do Gótico e como ele chegou ao cinema.  


O gótico


O termo foi usado para caracterizar manifestações artísticas, estéticas e comportamentais e por tanto, a palavra em si tem múltiplas caraterísticas. Ela é derivada de Godos, um povo germânico originários das regiões meridionais da Escandinávia.  O termo “Godo” é derivado de línguas proto-germânicas e significa derramar ou espalhar. Logo, os Godos eram designados como os homens espalhadores de sementes. Este povo foi considerado "bárbaro" pelos romanos. 

Dando um salto no tempo, no  início da Renascença, o "godos" virou gótico, sendo usado de forma pejorativa para designar a tendência arquitetônica, criada pela Igreja Católica e  por fim, toda produção artística deste período. Assim, a arquitetura foi classificada como gótica, referindo-se ao seu estilo "bárbaro", se comparado às tendências românicas da época.


Gótico italiano


Como uma linguagem, o Gótico tinha características diferentes conforme a região ou tempo.  A arte gótica se desenvolveu a partir do ano de 1100, se desenvolvendo bem até 1300.  Esta tendência se espalhou principalmente no aspecto religioso. Não só no estilo das construções, mas nas pinturas das capelas e catedrais.

Se pensarmos que o Gótico surgiu na França, originário de uma cultura alemã, o italiano conseguiu extrair elementos de culturas diferentes e inserir sua própria. Na França, uma das grandes obras feitas no período foi a Catedral de Notre-Dame, iniciada no ano de 1163. A obra foi dedicada à mãe de Jesus Cristo, Maria, de quem se originou o nome Notre-Dame, que em português significa "Nossa Senhora".

Se compararmos os estilos das catedrais italianas e francesas, já percebemos os diferentes rumos tomados. Decorações figurativas são proibidas. Os vitrais são reduzidos em tamanho e incolores. O verticalismo é reduzido. Nos campanários exteriores e campanários estão ausentes.


Terror Gótico Italiano


Enfim, entre 1957 e 1968, aproximadamente, o cinema de horror italiano se ramificou fortemente, criando uma nova tendência: o gótico. O marco zero foi o filme "Os vampiros" que tinha Mario Bava como um dos seus diretores. Bava foi um dos nomes fortes do gótico italiano, estando presente com vários títulos importantes numa listinha de filmes essenciais. Riccardo Freda realizou o filme enquanto Bava foi o responsável pela fotografia. E quando Freda deixou a produção, Bava finalizou. Foi sua primeira experiência na direção. Como sabemos, Bava viria a se tornar um dos maiores e mais influentes diretores do cinema mundial.

O horror gótico italiano, como o próprio gótico italiano, seguia a tendência de pegar o melhor dos mundos e dar sua identidade a ele. Nomes como Christopher Lee (inglês), Klaus Kinski (polonês), Barbara Steele (inglesa), Robert Flemyng (inglês), Pierre Brice (Francês) davam aos filmes um caráter mais "europeu" que apenas italiano, remetendo às origens do gótico mundial. Havia certa mistura de subgêneros, principalmente com o Giallo. As histórias combinavam com o estilo vitoriano inglês.


O gótico estava ligado à literatura inglesa. E quando nos lembramos de alguns filmes, logo imaginamos histórias de fantasmas, castelos assombrados, ruínas, cemitérios, e neste cenário, o homem deveria confrontar com seus medos, para entender o que era real e o que não era, e talvez perceber a natureza dos seus próprios dilemas.

Saiu o tom "clássico" para dar lugar a fantasmas vingativos, bruxaria, maldições, erotismo. Alguns pôsteres sugeriam até uma tendência para o sexploitation. Fetiches, torturas, mulheres fortes, cores deslumbrantes e mortes violentas. Ainda que haja certa confusão, o gótico é muito mais amplo que o  terror, ainda que seja, por vezes, associado ao gênero. A mesma confusão é feita ao associar o gótico italiano com o giallo. Vários filmes do gótico italiano possuem elementos giallo e da mesma forma o contrário. 

O filme considerado marco zero do giallo foi "A garota que sabia demais" do mestre, sempre ele, Mario Bava. Como eles "aconteciam" na mesma época e ainda por cima, com diretor tão importante encabeçando os dois, era natural que os conceitos se misturassem.


Esta sobreposição de subgêneros continuou acontecendo. Podemos ver elementos góticos nos filmes de mortos vivos que viriam na década de 70 e 80, mais notadamente na filmografia de Lucio Fulci. É fácil associar obras como "Zumbi 2 - A volta dos mortos", "Pavor na cidade dos zumbis", "Terror nas trevas". Como esquecer o mix-up de gótico com surrealismo em Um lugar tranquilo no campo, de Elio Petri,  lançado em 1968.

Mas durante os anos 80, os elementos góticos foram se perdendo, cedendo lugar a outras influências, como o gore, algo perfeitamente natural, já que o cinema sempre esteve em constante mudança (não necessariamente, evolução).


Abaixo, uma lista de 10 indicações, sendo 3 da década de 70, que ainda que não falam parte do período forte do gótico italiano, são filmes importantes e com fortes elementos do horror gótico italiano. 

Direção: Riccardo Freda e Mario Bava

Em Paris, na França, uma duquesa louca, obcecada com a manutenção de sua juventude, faz o seu amante cientista matar várias mulheres e drenar o sangue para seu uso, enquanto um jornalista procura desvendar os crimes. É considerado o primeiro horror italiano sonorizado.

Direção: Mario Bava

Na Idade Média, a princesa Ada (Steele), acusada de bruxaria e práticas de vampirismo, é condenada a uma morte terrível: inquisidores cruéis cravam em sua face uma máscara amaldiçoada repleta de lâminas pontiagudas (a máscara do demônio, naturalmente). Mas antes que eles o façam, a bruxa ameaça a todos e promete voltar para se vingar e dar continuidade a seu legado de sangue e horror... E ela voltará...

Direção: Giorgio Ferroni

Holanda, século XIX. Um professor e um cirurgião mantêm um laboratório, onde a filha doente do primeiro recebe transfusões de moças raptadas. Com referências a Hawthorne e Poe, esta obra-prima gótica é dirigida por Giorgio Ferroni (“A Noite dos Demônios”).

Direção: Riccardo Freda

O ano é 1885. E o necrófilo Dr. Hitchcock, um renomado médico da Londres do século XIX utiliza seus avançados conhecimentos científicos para satisfazer desejos sexuais macabros. Ele gosta de drogar sua esposa para fúnebres jogos. Um dia administra acidentalmente uma overdose e a mata. Diversos anos mais tarde, casa novamente, com a intenção de usar o sangue de sua recente noiva para trazer o cadáver da sua primeira esposa de volta à vida. 

Direção: Mario Bava

Em meados do século XIX, um castelo sombrio na costa do leste europeu abriga uma família cujos membros estão envoltos em intrigas e traições. Quando um dos nobres senhores morre em circunstâncias misteriosas, os demais moradores do castelo passam a vivenciar acontecimentos sobrenaturais.

Direção; Antonio Margheriti

Um jornalista duvida da existência do sobrenatural nos contos de Edgar Allan Poe. Para provar que tem razão, ele aposta que consegue passar uma noite num castelo mal-assombrado. Um dos melhores filmes do ciclo gótico italiano.

Direção; Mario Caiano.

Uma mulher e seu amante são torturados e mortos pelo sádico marido dela. Mas o casal vai voltar do além em busca de vingança. Gótico com trilha sonora sinistra de Ennio Morricone e alusões a contos de Edgar Allan Poe. Também conhecido como “O Castelo do Terror”.

Direção: Mario Bava

Jovem mulher decide conhecer uma lendária cidade e, uma vez lá, se perde nos becos misteriosos da região. Em busca de abrigo, entra em uma estranha mansão e passa a viver estranhas e fantásticas experiências.

Direção: Pupi Avati

Stefano (Lino Capolicchio), um jovem pintor, chega em um antigo vilarejo para restaurar a pintura de uma igreja. O autor da obra era um nobre que habitava o castelo do vilarejo, cujas obras captavam os momentos finais das vidas das pessoas, utilizando modelos vivos, mas que morreu de forma repentina e sem explicações. Stefano é encurralado quando uma série de assassinatos começa a ocorrer misteriosamente. 

Direção: Dario Argento

Susan (Jessica Harper) é uma jovem americana que viaja para a Europa para estudar numa prestigiada escola de Balé. Desde o primeiro dia, porém, ela começa a se assustar com estranhas situações que ocorrem no local que a fazem desconfiar do corpo docente da instituição.


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