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OS PÁSSAROS (THE BIRDS 1963) . REBOBINANDO CLÁSSICOS

Matéria atendendo pedido do leitor Rogério Sampaio

FICHA TÉCNICA

Título original: The Birds
Ano de lançamento: 1963
Direção: Alfred Hitchcock
Produção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Evan Hunter, baseado num conto de Daphne Du Marier
Duração: 120 minutos
Elenco: Tippi Hedren (Melanie), Rod Taylor (Mitch), Jessica Tandy (Lydia), Suzanne Pleshette (Anne), Veronica Cartwright (Cathy)
Indicações ao Oscar: Melhores Efeitos Visuais

SINOPSE

Melanie Daniels (Tippi Hedren), uma jovem da cidade de São Francisco, vai até uma pequena cidade isolada da Califórnia chamada Bodega Bay, atrás de um potencial namorado: Mitch Brenner(Rod Taylor). Mas na cidade começa de repente a acontecer fatos estranhos: pássaros de todas as espécies passam a atacar a população, em número cada vez maior e com mais violência, deixando todos aterrorizados.



UMA VISÃO

Os Pássaros é um filme atípico na carreira de Hitchcock. Depois de Psicose, ele precisava de uma história que superasse o seu thriller anterior, e, para isso, ele precisava de uma história maior e mais aterrorizante do que as suas tramas costumeiras. Parece muito difícil, mas o Mestre conseguiu: Os Pássaros superou Psicose, pelo fato do medo ser desencadeado por seres tidos como inofensivos, e, principalmente, pelas ações mostradas não terem qualquer motivo para acontecer. Hitchcock percebeu, como poucos, que o medo do desconhecido é o mais horripilante de todos, e é justamente este o que está presente nesta obra, uma de suas melhores.

São tantos os acertos neste filme que eu nem sei por onde começar. Bom, não tem como errar com a sinopse, não é? Pois bem, a história começa do modo mais fútil possível, com uma discussãozinha entre um advogado, Mitch (Rod Taylor), e uma socialite, Melanie (Tippi Hedren, mãe da também atriz Melanie Griffith) em uma loja de pássaros. Depois que ele vai embora, ela passa a se interessar por ele e o persegue até a cidade de Bodega Bay, onde estão acontecendo estranhos ataques de pássaros. Pela história, dá para se perceber que temos uma mudança completa de clima: de uma screwball comedy (ver a crítica de Um Casal do Barulho), passamos a um drama / romance, antes de entrarmos de cabeça num estado absoluto de horror. Nas mãos de qualquer outro diretor, Os Pássaros poderia se tornar uma produção inconstante ou até mesmo incoerente, mas Hitch consegue dar ritmo e unidade à sua trama, nunca deixando-a cansativa ou desinteressante.

Apesar de sua mudança de tom, Os Pássaros consegue cativar graças ao desenvolvimento de personagens. Este filme não é primariamente sobre o ataque dos pássaros, e sim, sobre como um certo número de personagens reagem aos seus ataques. A decisão de Hitch em focar nas pessoas em vez dos animais foi bastante sábia: já imaginou um filme de 2 horas cuja preocupação principal fosse um bando de passarinhos se rebelando contra a humanidade? Aliás, na primeira parte do filme, eles quase não aparecem, e por incrível que pareça, eles não fazem falta. O motivo é que ficamos cada vez mais interessados na tal “história fútil”: queremos saber, a principio, se Melanie vai conseguir encontrar Mitch e seduzi-lo. Depois que os dois se encontram, a trama vai se complicando, à medida que entram outros personagens na história, todos ligados à Mitch: a sua irmã caçula, Cathy (Veronica Cartwright, a eterna Lambert de Alien, o Oitavo Passageiro), que simpatiza com Melanie à primeira vista; a sua ex-namorada, Anne (Suzanne Pleshette), que ainda o ama e, finalmente, a sua mãe possessiva e carente, Lydia (Jessica Tandy, vencedora do Oscar por Conduzindo Miss Daisy). Os novos conflitos que irão surgir entre esses personagens servem para deixar a narrativa bastante movimentada, dando a ela uma força própria. Ou seja, nem se não aparecesse uma ave sequer, esse filme já seria bom. Mas eles aparecem… e como aparecem…

Hitch foi nada menos que brilhante (ele o era com frequência nos anos 50 e início dos anos 60), acalmando os nervos dos espectadores que foram ver o filme apenas para ver os ataques dos pássaros. Como o primeiro deles só acontece depois de 50 minutos de projeção, Hitch ofereceu alguns “aperitivos” para os impacientes: filmou uma investida solitária de uma gaivota aqui, mostrou uma multidão de corvos enfileirados em fios de poste acolá… E, nisso, matou dois coelhos em uma cajadada só: satisfez os ânimos dos mais afoitos, e, mais ainda, criou um clima quase sobrenatural de pavor, uma sensação de que algo muito errado esteja acontecendo, mas que não sabemos o quê (e esse incômodo vai só aumentar com o decorrer do longa), tornando a sua obra gradativamente mais instigante.

Para mim, Os Pássaros pode ser classificado como terror e não como suspense, pelo menos na definição clássica deste gênero desenvolvida pelo Mestre. Para ele, suspense era deixar o público sempre à frente do personagem, para que ele ficasse apreensivo quanto ao seu destino. E nesse filme, nós não sabemos absolutamente nada do que está acontecendo! Ficamos tão perdidos quanto os personagens, com exceção de uma pequena cena no meio do filme, que antecede um ataque de corvos. As sensações evocadas por Hitchcock neste longa não são mais de apreensão, tensão ou expectativa pelo que vai acontecer com os personagens.

Aqui, ficamos nada menos que apavorados pelo que pode acontecer, já que o comportamento dos pássaros (e até mesmo o de alguns personagens) é totalmente imprevisível, aflorando em cada um de nós o medo pelo desconhecido. Hitch até mesmo comenta essa mudança de estilo nas suas clássicas entrevistas com Truffaut, revelando que “o velho modo de fazer suspense” estaria “fora de moda”. Não sei se está fora de moda (se estivesse, seus filmes teriam perdido todo o seu impacto, não?), mas posso afirmar com toda a convicção que Hitch conseguiu mais uma vez emocionar e fazer com que prestemos total atenção ao filme. A única diferença é que, agora, não estamos mais adiantados em relação aos personagens, e sim, sofremos junto com eles.

Os ataques dos pássaros são executados de maneira perfeita e impressionam até hoje não só pela dificuldade de execução para os padrões técnicos da época, mas também pela impressão que eles nos deixam. Os ataques vão piorando progressivamente, primeiro com algumas gaivotas, alguns corvos, até que chegamos a um cenário quase apocalíptico em que as aves tomam conta de Bodega Bay, instaurando o caos. O fato deles nos marcarem tanto tem a ver com o fato das sequências serem magníficas do ponto de vista técnico. Através de sons, edições e truques, os pássaros assassinos nos proporcionam uma experiência sensorial única.

A técnica mais usada para tornar realidade a “revolta” dos pássaros foi a do vapor de sódio, criada pelos estúdios Disney e similar ao chroma key, no qual se coloca um ator ou objeto na frente de uma tela verde ou azul (o processo de vapor de sódio necessitava de uma tela amarela) e depois se substitui esse fundo. Em Os Pássaros, ela funcionou perfeitamente, e, para quem consegue se desprender um pouco da nossa atual realidade cinematográfica e dos efeitos computadorizados, dá pra perceber o quanto ela é eficaz. As inserções são muito bem-feitas, dando a impressão que muitos pássaros estão realmente na tela.

Muitas cenas também fazem uso de pinturas para completar o cenário, inseridas também pelo processo de vapor de sódio. Elas também apresentam um nível de realidade impressionante, e, dessa vez, até os espectadores dos dias de hoje podem se espantar com o resultado. Eu, que adoro tentar descobrir como tal tomada é feita em um filme (por exemplo, se ela precisou de um efeito visual ou não), nem suspeitei que alguns enquadramentos continham pinturas até eu assistir aos extras do DVD. Prefiro não dar exemplos porque quero que você também se surpreenda e tente encontrar as (várias) cenas em que o efeito é usado. Garanto que você vai se surpreender.


"Ele arruinou a minha carreira, mas não a minha vida", disse ela em uma conferência da Associação de Críticos de Televisão.
Tippi Hedren


Mas tais sequências nunca teriam o efeito que tiveram não fosse o som criado para as aves ameaçadoras. Se Hitchcock acertou em qualquer decisão tomada em Os Pássaros, mais do que todas as outras, foi a de não ter uma trilha sonora. Se houvesse música nos momentos mais impactantes do filme, a plateia ficaria mais distraída do que perturbada. Em vez disso, o Mestre optou pelo mínimo: a única “trilha” que escutamos são os sons emitidos pelos próprios pássaros e pelo bater de suas asas. E, entre cada ataque, não produzem qualquer som, criando um silêncio de gelar a espinha… Essa combinação de sons, juntamente com a composição visual dos ataques, consegue elevar o terror a um patamar máximo, quase insuportável, demonstrando a genialidade inquestionável de Hitchcock em causar um impacto nos seus espectadores.

Como exemplo, posso citar três cenas emblemáticas, perto do fim do filme: quando os personagens estão presos em casa, eles apenas ouvem os pássaros circulando o local, com seus pios cada vez mais fortes. A cena é bem impactante, porque, como já foi dito, o medo do que a gente não vê é muito mais forte do que quando a ameaça é revelada. O primeiro arrasa-quarteirão (ou blockbuster, como eu prefiro chamar), Tubarão, está aí para provar essa teoria. Outra sequência é o ataque das aves a um personagem no sótão da casa. Além de ser um exemplo de edição rápida e milimetricamente precisa (lembrando o assassinato no chuveiro, em Psicose), ela ainda mostra o quanto o som pode ser eficiente no cinema: assustamo-nos apenas com o ruído das asas dos pássaros. Aqui, eles não piam de jeito nenhum. Nem precisam! Por fim, temos a última cena, que eu não vou entrar em detalhes, obviamente, mas que nos deixa atônitos pelo som de várias aves piando em conjunto.

Os Pássaros não funciona apenas como terror. Ele também é alegoria. Os ataques são como uma válvula de escape, possibilitando a vazão de todos os temores, angústias existenciais e preconceitos dos personagens – que são próprios da humanidade no geral. Melanie, Mitch, Lydia e toda a população de Bodega Bay não estão desesperados apenas por temerem perder suas vidas: o ataque dos pássaros também os fez olharem para si mesmos e verem suas próprias falhas.

Hitch falava que este filme tinha a ver com o “perigo da complacência”, ou seja, do quanto tomávamos tudo na nossa vida por garantido – nossa liberdade, rotina, familiares e amigos, e até a alegria proporcionada por inofensivos passarinhos – e como essas coisas poderiam ser tomadas de nós de uma hora para outra. O filme pode levar a inúmeras interpretações, e esse é outro aspecto que faz dele uma verdadeira obra-prima do cinema.


Incrível, mas nunca sobra espaço nas minhas críticas para falar das atuações, exceto no final. Bem, antes tarde do que nunca, não é o que dizem? Então vamos lá: Os Pássaros não seria o que foi se não fosse pelo elenco muito bem escolhido. Como já foi dito, é um filme sobre pessoas, e não sobre pássaros, e atores e atrizes de segunda linha teriam diminuído, e muito, a qualidade do filme. Felizmente, Hitch reuniu um grupo com muita química, e que entregou à plateia interpretações consistentes com cada mudança de tom no filme. Muitos criticam Tippi Hedren, mas ela não é “só um rosto bonito” (lindo, neste caso). Ela consegue fazer a transição muito bem da ricaça arrogante para uma mulher corajosa e, finalmente, por mais uma vítima alquebrada pelos pássaros. Rod Taylor é a fortaleza do filme: seu personagem é ao mesmo tempo gentil e decidido, mesmo com tudo desabando à sua volta. E temos também a grande atriz, tanto do teatro quanto do cinema, Jessica Tandy, que é uma mãe hitchcockiana não tão excêntrica quanto às outras, mas igualmente atípica. Tandy encarna com naturalidade Lydia, que teme a solidão, e por isso, exerce um forte domínio nos filhos, de um modo quase que subconsciente.

Os Pássaros tem de tudo: muitas cenas de ação, desenvolvimento de personagens, com direito a romance e comédia e uma gama de efeitos visuais. Mas, acima de tudo, está ali, impresso em cada fotograma, o medo em sua forma mais pura, e por isso mesmo, mais assustadora. Se o suspense estava mesmo fora de moda, Hitchcock, com este filme, acabava de criar uma outra forma de causar algum tipo de impacto nas pessoas, tão eficaz e fascinante quanto a antiga.



REBOBINANDO O BLU RAY

Na sua estréia original, este filme do mestre do suspense Alfred Hitchcock (1899-80) não provocou grande reação no Brasil, nem nos EUA . Foi indicado a apenas um Oscar (de efeitos visuais que perdeu para Cleopatra!). Foi o primeiro que ele fez depois do grande êxito de Psicose (60) mas nesse meio tempo se dedicou mais a produzir, apresentar e ocasionalmente dirigir episódio da serie de teve de grande sucesso Suspense (Alfred Hitchcock Presents). Mas depois teve sua consagração quando foi apresentado pela TV Tupi no final dos anos 70, em horário nobre e teve enorme audiência. No dia seguinte só se falava nisso e na cena final que todo mundo achava que havia sido cortada pelo canal (que tinha essa ma fama). Foi depois reprisado igualmente com êxito e assim sem tornou um dos filmes favoritos do brasileiro. Esta nova edição em Blu Ray (já tinha saído como parte de um boxe de sua obra no estúdio) comemora os 50 anos do filme. 

E que hoje continua a aparecer extremamente ousado, particularmente em fazer um final aberto, intrigante, que deixa as pessoas discutindo. O filme, como todo mundo deve saber ,é inspirado em conto de Daphne Du Maurier (autora de” Rebecca, a mulher Inesquecível”, que em 1939 escreveu seu ultimo filme britânico (Estalagem Maldita) e depois em 1940 seu primeiro sucesso nos EUA, justamente Rebecca. Hitch comprou os direitos pensando em adaptar para a teve.  Daphne (1907-89) escreveu outros livros que viraram filmes famosos como Inverno de Sangue em Veneza (73), Gaivota Negra (44), O Estranho Caso do Conde (59 ), Eu te Matarei Querida (52). Curiosamente o filme e a historia tem pouco a ver. Somente o fato de se passarem a beira mar, numa cidadezinha a beira de uma baia, que é vitima de bizarros ataques de pássaros sem maiores explicações. Na obra de Du Maurier's o protagonista descobre que esse comportamento dos pássaros esta ligado diretamente com a subida e descida das mares e usa isso para derrotá-las. No filme não é feita essa conexão.  Além disso o original ser passa na Inglaterra, onde um homem tenta proteger sua esposa e dois filhos na sua casa isolada.

The Birds voltou a ser comentado recentemente porque fatos novos foram revelados, nem todos convincentes sobre a relação entre Hitch e sua descoberta para este filme que foi a modelo Tippi Hendren (haviam aspas no Tippi antes) e mais lembrada hoje como a mãe de Melanie Griffith, ex-mulher de Antonio Banderas. Foram em alguns livros e em dois filmes, mais precisamente em "A garota" co-produzido pela HBO e a  BBC . Esta afirmou que ela foi vitima de sedução, ameaçada e sofreu maus tratos na mão de Hitch (como era chamado e fazia questão disso). Fato desconhecido da gente ate agora e negado nas entrevistas feitas para o Making of que vem aqui, que é de 99, mas que foi explorado num roteiro totalmente trash de uma certa Gwyneth Hughes (que tem feito telefilmes).O roteiro não dá elementos para entendermos o seu comportamento descontrolado e maldoso (segundo o filme durante as filmagens de Os Pássaros porque ela não quis dormir com ele permitiu que ela se ferisse com os pássaros de verdade ou de mentira que a atacavam). Por outro lado, não fica muito claro embora tenha lido em resenhas que ele seria impotente (há uma cena onde há um fade out, escurecimento, onde deixa a entender que ela teria finalmente consentido! Ao menos fica dúbio). 


 Mas tudo se estraga de vez com um letreiro final que afirma que Marnie seria um sucesso e hoje é visto como a ultima obra prima do diretor. Só na cabeça dessa gente maluca, já que Marnie já foi sempre mal visto pela critica (que o achou antiquado) e ainda hoje é considerado um dos piores de Hitch (a ultima obra prima foi Frenesi, três filmes depois dele. Enganar tudo bem mas mentir é feio.
Grande parte do mérito do filme deve ir para o roteirista que é o famoso Evan Hunter (1925-2005), autor de muita obra famosa e também conhecido com o pseudônimo de Ed McBain : Sementes da Violência, 55, com Glenn Ford,  O Nono Mandamento com Kim Novak, 60, Juventude Selvagem, 61,  com Burt Lancaster, A Mulher sem Rosto, 63, com James Garner, Céu e Inferno, 63 de Kurosawa, O Ultimo Verão, com Barbara Hershey, 69, Sem Motivo Aparente, 69 com Jean-Louis Trintignant, Confusões por Todos os Lados, 72 com Lynn Redgrave, Aliados contra o Crime, 72 com Burt Reynolds, Laços de Sangue, 78, de Chabrol, com Donald Sutherland. Evan escreveu inclusive um Me and Hitchcock, sobre a colaboração entre os dois aqui e também depois em Marnie. 

DISSECANDO OS PÁSSAROS

Há vários aspectos a se comentar do filme separadamente (mais acima, foi comentado inserido no texto)

1) não há trilha musical tradicional. Ao contrário o compositor habitual de Hitchcock Bernard Hermann assina como consultor e aprovou a idéia de irem ate a Alemanha conhecer uma experiência que se faziam com sons eletrônicos. Num aparelho chamado mixtrautonium, por Oskar Sala. Embora tenha musica incidental (Tippi tocando piano "Deux Arabesques" de Claude Debussy (1888), as crianças cantando na escola uma musica que tem letra de Evan Hunter) todos os efeitos são guardados para as cenas de ataque, com barulho simulando a voz dos diferentes pássaros.  O resultado é excepcional e favorece também os silêncios que provocam suspense, já que o publico fica esperando os ataques como na sequencia em que Tippi /Melanie vai fumar cigarro (coisas da época tanto ela quanto a professora fumam muito!) e de repente num momento ate longo no parque das crianças o trepa-trepa fica repleto de corvos! Que se preparam para atacar. E depois da morte do fazendeiro que já sabemos que são mortais! (o cadáver dele é mostrado em três planos cada um deles mais próximo que o seguinte, também novidade na época). 

2) Os figurinos do filme são da maior figurinista de Hollywood, a mais premiada (8 Oscars), a genial Edith Head que fez vários filmes com Hitch (como Um Corpo que Cai, Janela Indiscreta) .Foi quem desenhou os discretos tailleurs para Tippi (mas também suas roupas para apresentações pessoais). Assim a roupa verdade combina com os olhos verdes da atriz. Edith assinou 437 projetos. 

3) Hitchcock não gostava de rodar em locações. Aqui ele começa na praça mais famosa de San Francisco mas assim que Tippi/Melanie atravessa a rua e passa por um cartaz já se muda para o estúdio. Um garoto assovia com admiração para ela (mas era uma citação do comercial de teve que Fez com que Hitch prestasse atenção nela e a contratasse!). Entra então na loja de animais.

4) É já ai bem no comecinho do filme que Hitch faz sua tradicional aparição em cameo (pontinha), saindo da loja levando justamente seus dois cães de estimação que ficavam o tempo todo com ele, mesmo no estúdio!

5) O que mais me espantou revendo o filme é o fato de que ele desobedece as normas dos livros que ensinam como escrever roteiros. Nada acontece de suspense ou emoção até o primeiro ataque da gaivota em Tippi, isso já aos 25 minutos! Até ali temos apenas momentos de romance. O autor Hunter confirma que ele usou o velho truque das comédias screwballs dos anos quarenta fazendo que o casal se encontrar de forma bonitinha e engraçada, sendo que imediatamente ficam implicando um com o outro. Quase brigando, quase flertando. É o que sucede ate o primeiro ataque quando se muda de tom. Como Hitch gostava muito do gênero e de Carole Lombard fica-se com a impressão de que estava pensando nela ao aprovar esse estilo! 

6) A edição em Home vídeo tem um erro grosseiro de tradução ao chamar Hood de Pretos, quando o certo seriam marginais, delinqüentes, bandidos (como em Robin Hood). Ao usar esse nome demonstra um inaceitável preconceito! (isso sucede duas vezes num dialogo que a menina diz sobre o irmão que é advogado! Ou seja que o marginal tem que ser preto!). Um absurdo.

7) O clima é construído muito devagar começando com as galinhas que não querem comer e já na primeira sequencia Tippi presta atenção no céu da praça onde se percebe pássaros circulando como se fossem migrar.Foi cortada uma cena que foi rodada mas só aparece aqui em trechos do script e poucas fotos. Nela o casal tomando ar no alto da colina e vendo o mar, discute como teria tudo acontecido e brincam que os pássaros se reuniram e resolveram atacar os humanos. 

8) Reparem como Hitch procurou usar pássaros bonitos e amigáveis, como a gaivota, os pardais e o mais feioso seria apenas o corvo! E não agressivos como águias e gaviões.

9) Como se sabe Hitch tinha preferência por loiras, de Grace Kelly a Kim Novak e em geral colocava morenas de coadjuvante  como rivais. Aqui, ele dá esse papel a uma atriz subestimada e que merecia muito mais,a linda e boa atriz Suzanne Pleshette (1937- 2008) que ficou famosa no Brasil por causa de O Candelabro Italiano (depois se casou por uns tempos com o galão do filme Troy Donahue) e nos EUA na serie de teve The Bob Newhart Show. Muito divertida, famosa pela boca suja, ela faz a quase rival de Melanie/Tippi, a professora local. Tem poucas cenas e nem sequer uma boa saída de cena . Mas com pouco texto, consegue passar a verdade e a simpatia de Annie Hayworth, que amava e sofria em silencio. Sem nunca trair.

10) Hitch pensou em Farley Granger para o papel de Mitch mas ele tinha compromissos no teatro e o escolhido foi o australiano que esteve contratado pela MGM Rod Taylor (1930-). Este chegou a fazer papeis importantes (Zabrieskie Point para Antonioni, foi galã duas vezes de Doris Day e retornou em Bastardos Inglórios, irreconhecível por causa do alcoolismo).

11) Quem tem participação importante no filme é Jessica Tandy (1909-94), que só realmente ficaria famosa quando idosa (seria a mais velha atriz a ganhar um Oscar, no caso por Conduzindo miss Daisy em em 89). Hitch era velho amigo do marido dela que fez vários filmes com ele, Hume Cronyn. Aqui faz a mãe de Mitch/Rod, um personagem difícil porque inseguro, que promete mas não cumpre ser rival e inimiga de Melanie/Tippi. Jessica porém demonstra sua competência e uma beleza que é raramente comentada.

12) Há alguns atores coadjuvantes importantes no filme. Curioso como Hitch usou numa ponta um ator de comédia na época muito querido, Richard Deacon (1921-84), abertamente homossexual e que faz o vizinho que da instruções quando Melanie vai deixar o presente na porta. Toda a sequencia no restaurante chamado Tides também tem figuras características como Charles McGraw (aquele que prevê fim do mundo), Ethel Griffies como a ortonologista (Fez de A Ponte de Waterloo, a Como Era verde o meu Vale). Elizabeth Wilson (como a garçonete) mas sem duvida a mais lembrada de Veronica Cartwright, irmã de Angela, e que fez Infâmia, Alien, A Bruxa de Eastwick, Os Nove Irmãos. Mitch Zanich, dono do Tides fez acordo com a produção de emprestar o lugar em troca de ter uma fala e um personagem levar o seu nome.(Pode ser ouvido O que aconteceu Mitch? Depois do ataque da gaivota. E Mitch é o nome de Rod).

13) Os efeitos especiais foram inovadores, na medida em que a projeção de fundo colorido no chamado Blue Screen não dava bons resultados, principalmente nas bordas que ficavam azuladas. Resolveram então recorrer a técnica dos estúdios Disney, que  basicamente era gravar as imagens separadas (o ator que vai em primeiro plano e o fundo), utilizando bases em cores diferentes (amarelo a do background e a outra em branco). Por isso a união das duas imagens feitas em pos produção deram resultado muito melhores e convincentes,  mesmo ate hoje. 

14) Havia um outro final no roteiro mas não mudava muita coisa. Basicamente o carro com os sobreviventes ia atravessando a cidade que estava toda arrasada, com muitos mortos e vitimas. Quando estão saindo encontram novo bando de pássaros que atacam o carro (que é um conversível com cobertura de lona), os bichos estão vão furando essa lona ate romperem.Quando vão atacar e seriam mostrados num plano de baixo para cima, contra o céu, Mitch pisaria no carro e conseguiria escapar. 

 A sequencia porém não foi rodada segundo o roteirista porque sairia muito cara. De qualquer forma, Hitch fez o elenco e equipe jurar que não contaria o final. No extra chamado "o filme de Monstro de Hitchcok "(onde vários famosos comparam o filme á Tubarão de Spielberg que teria se inspirado muito nele!) se defende a teoria apocalíptica. Embora tenham realmente ocasionais ataques de pássaros a humanos (um inclusive com o filho da autora Daphne) o enredo faz imaginar algo maior, uma revolta mesmo e chegaram a pensar em ter pássaros em toda parte, ate mesmo na Golden Gate de San Francisco. Mostrando que não teria saída. Alguns dizem que foi uma critica a complacência humana diante da natureza, que um dia pode se revoltar. Por isso fizeram a cena da discussão do povo no restaurante (com a virada clássica do povo contra a heroína, já que tudo começou a acontecer quando ela surgiu na cidade. Alias Tipi conta que o tapa que deu na atriz que a ataca foi para valer a pedido da própria).Então o fim não é um clímax mas uma grande interrogação que o espectador tem que responder. 

Houve  uma continuação muito fraca feita para a teve, chamada Os Pássaros 2 (94, The Birds II: Land´s End, de Rick Rosenthal, com Brad Johnson e Chelsea Field (e participação pequena de Tippi em outro personagem). Importante: Hitchcock não quis colocar a palavra The End no fim do filme porque achava que nada se concluia. Tudo termina apenas com o Logo novo da Universal (que por sinal durou pouco). Não se pode esquecer das inúmeras imitações, durante anos os produtores imitaram Hitch e fizeram diversas revoluções dos animais contra os homens (Coelhos, Cobras, Aranhas, Jacarés, e assim por diante).


”Morro de medo de ovos, pior do que morrer de medo, eles me revoltam. Aquela coisa branca arredondada sem nenhum buraco. Você já viu algo mais revoltante de que uma gema de ovo quebrando e derramando seu líquido amarelo? O sangue é alegre, vermelho. Mas a gema do ovo é amarela, revoltante. Eu nunca a provei.”
 Alfred Hitchcock

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