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JOHNNY GUITAR (1954) - FILM REVIEW

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Era uma vez Johnny Guitar


Impossível não notar semelhanças entre o filme de Ray e a obra prima "Era uma vez no Oeste", de Sergio Leone.

Ambos os filmes tem em suas cenas iniciais cenas muito parecidas: de um lado um personagem misterioso que toca uma harmônica. Do outro, um personagem misterioso com um violão. Nos dois casos, eles são chamados pelo nome do instrumento (Guitar e Harmônica). Nos dois filmes há um forte ponto de vista feminino, com a mulher fincando seus pés (sem marido ou filhos) em um lugar à espera da passagem de uma ferrovia, que lhe trará prosperidade.

Além disto, vários tipos chegam há um bar aonde vão sendo apresentados os personagens. E mais curioso ainda é que em ambas as produções, eles tem o visual bastante empoeirado.


Ainda que suas semelhanças terminem por aqui, penso que não seria leviano afirmar que Leone homenageou Johnny Guitar em seu filme, já que ele veio 11 anos depois. 

O clássico mostra a mulher (emponderada) Vienna, interpretada por Joan Crawford, dona de um saloon próximo da ferrovia, tem planos ambiciosos para seu terreno. Emma Small (Mercedes McCambridge), filha de um rico fazendeiro da cidade vizinha, não pretende deixar que ela os realizasse. Emma é apaixonada por Dancin’ Kid (Scott Brady), que prefere Vienna. Tentando se livrar da inimiga, a herdeira manda seus capangas destruírem o saloon e inicia uma verdadeira guerra, na qual Vienna conta com o luxuoso auxílio de uma importante figura de seu passado: Johnny Guitar (Sterling Hayden).

Essa mulher pensa e age como homem, nem me sinto um perto dela. 

 


Furacão Crawford - lendária “problematizadora” de produções


Joan Crawford era dona dos direitos de adaptação do livro de Chanslor e vendeu a autorização ao estúdio sob a condição de estrelar o filme.  Crawford queria que Claire Trevor interpretasse Emma e nunca teve uma boa relação com e escolhida, Mercedes McCambridge, jovem e competitiva. Os ciúmes e as brigas eram frequentes no set. Certa vez, Crawford entrou no camarim da atriz e cortou todas as suas roupas em um acesso de fúria, sem que houvesse um motivo realmente justificável.  Certa noite, furiosa e bêbada, Crawford espalhou os trajes do filme usados ​​por McCambridge ao longo de uma rodovia no Arizona. Elenco e equipe tiveram que recolher as roupas.

Apesar de grande parte da filmagem ter acontecido em locação, Joan exigiu que todos seus closes fossem filmados em estúdio, onde a luz podia ser completamente controlada. Após o término das filmagens Sterling Hayden teria dito: "Não há dinheiro em Hollywood que me faça voltar a contracenar com Joan Crawford. E eu amo dinheiro."




Em um ponto do filme, Johnny diz: "Eu também sou um estranho aqui". Este era o lema pessoal de Nicholas Ray, um tema recorrente em seus filmes, e  foi usado como título provisório em quase todos os filmes que ele dirigiu.

O cinema é Nicholas Ray
Jean-Luc Godard

Nicholas Ray - um dos diretores mais versáteis do cinema


Raymond Nicholas Kienzle cresceu em uma família de origem alemã e norueguesa. Depois de frequentar brevemente a Universidade de Chicago , Ray passou vários meses na escola Taliesin de Frank Lloyd Wright , onde participou de atividades associadas ao teatro da comunidade e estudou arquitetura . 


Em seus primeiros anos como diretor de cinema, Ray tornou-se conhecido por suas contribuições ao film noir. Fez também diversas obras primas em outros gêneros diferentes como Juventude transviada, O Rei dos Reis, Sangue sobre a neve  e Quem foi Jesse James. 

Ray gradualmente sucumbiu ao alcoolismo, o que tornou cada vez mais difícil para ele encontrar trabalho na indústria depois de 1960 (seu último trabalho realmente conhecido é de 1963, 55 dias em Pequim). Ele morreu de câncer de pulmão em 16 de junho de 1979. 

Inovador + problemático = obra prima


O filme não foi somente inovador na inversão dos papéis (duas mulheres brigando por causa de um homem, que toca violão e nem usa arma), mas também foi planejado para ser em 3D, formato interessante na época, porém não foi para frente a ideia. O filme foi feito pela Republic, um dos estúdios "menores" de maior nome na época.  Talvez propositalmente, a escolha de Sterling Hayden causou estranheza, já que ele não sabia andar a cavalo, tocar violão e não tinha a menor intimidade com armas. Mas desta forma, funcionou com o personagem ideal, desconectado daquele mundo disputado por duas "generais" de seus exércitos (no caso de Joan, exército de uma mulher só). Assim como Kid, Guitar é segundo plano diante do confronto das duas. Até as roupas vestidas pelos personagens masculinos realçam suas inexpressividades.



O filme tem paralelo com a caça aos comunistas (o filme foi escrito pelo roteirista  Ben Maddow, que estava na lista negra, mas a produção credita  Philip Yordan) e de forma sutil sugere que a obsessão de  Emma (Mercedes McCambridge) por Vienna é na verdade um amor que jamais será correspondido.

Como era de se esperar, a crítica na época depreciou o filme.  E para piorar, as constantes brigas de todo mundo com Joan fez de Johnny Guitar um pesadelo para Ray. Ele dizia que antes de trabalhar já começava a passar mal só de pensar no que teria de enfrentar.  Mas era assim a concepção de uma obra prima. Um filme além do seu tempo, que ainda pode ser admirado várias décadas depois.
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