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GRANDE BÚFALO BRANCO (1977) - FILM REVIEW

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Retratos de uma obsessão


No mínimo curioso, a excelente premissa do filme "Grande búfalo branco", foge do lugar comum e leva ao público o lado atormentado de um pistoleiro (Wild Bill Hickok  interpretado por Charles Bronson). Na trama, ele tem constantes pesadelos com um búfalo branco e que o confronta em um lugar específico, em meio à neve e árvores, cenário incomum aonde ele vive. E com estes elementos, ele fica entre duas opções: é um sonho premonitório ou uma demonstração que ele está ficando louco. 

Paralela á sua cruzada em busca do búfalo, uma tribo indígena é atacada pelo grande búfalo branco e por um motivo em particular, Cavalo Louco (Will Sampson) sai a caça do bicho para defender sua honra e vingar a morte de um ente querido. A jornada destes personagens vai colidir, pois não só buscam eliminar um monstro (que os atormenta) em comum, como terão que administrar o fato de que Wild Bill Hickok, um pistoleiro sangrento, matou alguns membros da tribo de Cavalo Louco no passado, além de viver sob o lema: "- índio bom é o índio morto".


Baseado num livro de Richard Sale

Sale começou sua carreira escrevendo nos anos 30. Nos anos quarenta já estava contribuindo para jornais. Em meados da década, migrou para o cinema, roteirizando, produzindo e dirigindo. Curiosamente, seu livro Búfalo branco, publicado em 1975, foi levado aos cinemas pelas mãos do competente J. Lee Thompson e não pelas próprias (já que nesta altura, já tinha experiência na direção).

O filme dialoga com vários sucessos da época, como Tubarão, Orca (que saiu no mesmo ano e do mesmo produtor, Dino De Laurentiis) e todos bebem na fonte de Herman Melville. Seu Moby Dick, de 1851, ditou as regras para as produções com personagens que sofrem nas mãos de um animal e logo ficam obcecados em matá-lo.


Búfalo branco faz isto com estilo, levando o problema ao velho oeste, e a dois ícones da cultura americana: Wild Bill e Cavalo Louco. "É um Moby Dick do oeste", disse o diretor J. Lee Thompson na ocasião.

Bill

Wild Bill Hickok nasceu em Illinois. Devido a conflitos de terra, ele se tornou um bom atirador desde muito jovem. Em 1855 Hickok teve uma briga com Charles Hudson e ambos caíram num canal. Pensando que ele havia matado Hudson, Hickok fugiu e se juntou ao Exército do Estado Livre do General Jim Lane ("The Red Legs"). Ali ele se encontrou com o jovem William Cody, mais tarde conhecido por "Buffalo Bill".

Em 1861, já com um vasto bigode, ele se envolveu num tiroteio chamado de incidente McCanles, quando então começou a ser conhecido por "Wild Bill". Em 1867 Hickok deixou temporariamente o Oeste e se mudou para Niagara Falls (NY) onde trabalhou numa peça chamada "The Daring Buffalo Chases of the Plains", que provavelmente inspirou o escritor Richard Sale a escrever a história fictícia retratada no filme.


Muitas mortes seguiram o seu caminho, normalmente documentadas. Algumas até mesmo acidentais. Porém sua jornada terminou cedo, aos 39 anos, em 2 de agosto de 1876, enquanto jogava pôquer no Saloon Nuttal & Mann em Deadwood, em Black Hills.  Sentado de costas para a porta, ele levou um tiro na cabeça de um revólver calibre 45, dado por Jack McCall. A lenda diz que Hickok estava jogando pôquer quando foi morto, e que segurava um par de ases, um par de oitos e uma dama. Essas cinco cartas ficaram conhecidas como a "Mão do homem morto" (Dead Man's Hand). Depois de dois julgamentos, McCall foi enforcado.

Crazy Horse

Já Cavalo Louco foi um índio Sioux, líder militar da tribo dos Oglala Lakota, que lutou com seu povo para preservar as terras e tradições dos Dakotas, durante a segunda metade do século XIX, nas chamadas Guerras indígenas nos Estados Unidos da América. Ao lado de Touro Sentado, ele conduziu seus guerreiros durante a batalha de Little Bighorn, evento em que morreu o célebre General Custer (que Wild Bill era batedor).


Em 5 de setembro de 1877 ele foi morto quando era prisioneiro do Camp Robinson, atravessado por uma baioneta de um dos guardas , depois de uma suposta tentativa de fuga. Nascido em 1840, ele morreu aos 37 anos e um ano depois de Wild Bill.

O filme

A produção tem nomes como Jack Warden (que faz o amigo de Wild Bill, Charlie Zane), Kim Novak (a musa hitckcockiana de Um corpo que cai  e que ganhou 50 mil dólares por apenas  3 dias de trabalho), Clint Walker (de Doze condenados, que  dividiu cena com o próprio Charles Bronson), Stuart Whitman, John Carradine, Ed Lauter e Martin Kove (o grande vilão do Cobra Kai fazendo aqui o algoz de Wild Bill).

O famoso  técnico de efeitos especiais Carlo Rambaldi projetou o búfalo animatrônico em tamanho real  que deslizava por trilhos. As filmagens em close do bicho, não só dão pavor às cenas, mas é um meio de eliminar qualquer possibilidade de ver o animal por inteiro correndo.


A pegada psicológica do filme é (infelizmente) poucas vezes mostrada em obras do gênero. Filmes como Céu amarelo, O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, Consciências mortas são raros e costumam ser geniais. Não é diferente com Búfalo branco (que no Brasil foi lançado em VHS como Caçada da morte, mesmo título que o filme passou na TV americana).

O búfalo remete ao trauma dos inúmeros assassinatos cometidos por Wild Bill, que parece ter adquirido sua fama por conta do acaso e acontecimentos que levaram aos crimes e não propriamente ao fato de ser uma pessoa má. Seus pesadelos, mostrando que uma hora ele terá que acertar as contas com seus traumas, o leva justamente ao ponto chave do filme. O único amigo que realmente fez, quando descobre quem é Wild Bill (só o conhecia pelo pseudônimo), o rejeita. Se traçarmos todas as atitudes (surpreendentes) que ambos tomaram, um em relação ao outro, durante o filme, chega a ser trágico para Bill que, no momento que ele tenha sido uma pessoa de bom caráter, seu passado o encontrou, ironicamente, na forma de um índio. 


Neste momento, podemos colocar que a história fictícia e a real se fundem, pois Bill encontrou seu fim cedo, pelas mãos de alguém que buscava fama por matar alguém tão notório (ou seja, não haveria redenção para ele, nem no filme e muito menos na vida real). E ao mesmo tempo, o bom caráter do Cavalo Louco também seria tragado pelos americanos, colocando fim aos que lutavam pelos direitos de suas tribos. 

Ambos derrotados pelos seus Grandes búfalos brancos. Mas afinal de contas, não somos nós todos derrotados da mesma forma?


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