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EXTERMINADOR DO FUTURO - A SALVAÇÃO (2009) - CRÍTICA DESTRUTIVA



Saí de uma sessão de cinema de "O Exterminador do Futuro - A Salvação" ainda embasbacado com o bombardeio de efeitos especiais e com o primor das cenas de ação do filme dirigido por (gasp!) McG. Mas cinco minutos depois, pensando no que tinha acabado de ver, comecei a me perguntar: "Tá, e daí?".Mais alguns minutos, e eu me sentia um completo idiota. Isso porque, amiguinhos e amiguinhas, o último "Terminator" pode até ser muito bem-feito, pode até ser divertido e pode até ser um belo programa para uma ida descompromissada ao cinema. Mas, quando você se põe a pensar naquilo que está vendo, o filme não passa de uma ofensa à inteligência do espectador. O roteiro deste quarto filme não está apenas subestimando a esperteza de quem assiste, e sim chamando o espectador de burro o tempo inteiro.

E isso é uma coisa que já vem do terceiro filme, "O Exterminador do Futuro 3 - A Rebelião das Máquinas", dirigido por Jonathan Mostow em 2003 e, até agora, o mais fraco da franquia. Por mais que os aspectos técnicos da terceira aventura fossem irrepreensíveis, já era evidente que não havia mais história para contar, e a perseguição de um jovem John Connor (então interpretado por Nick Stahl) por uma máquina do futuro, sendo protegido por outro cyborg bonzinho (Schwarzenegger), não passava de um remake disfarçado de "O Exterminador do Futuro 2" - que, por sua vez, não passava de uma versão mais turbinada de "O Exterminador do Futuro 1".Não contente em apresentar uma história requentada e sem acrescentar qualquer nova informação ao que já tinha sido mostrado antes, "O Exterminador do Futuro 3" ainda encerrava com um golpe baixo, sugerindo que o destino já está traçado e que não existe como alterá-lo - no máximo, adiá-lo temporariamente.

Em outras palavras, todo o trabalhão que Sarah Connor teve para tentar impedir o surgimento do Skynet em "O Exterminador do Futuro 2" foi em vão, já que o supercomputador apareceu de qualquer jeito, apenas alguns anos mais tarde. Sentiu a imbecilidade?

Ora, dentro desse raciocínio estapafúrdio, quer dizer que mesmo se as máquinas tivessem conseguido matar Sarah ou John Connor nos primeiros filmes, um outro líder da Resistência humana surgiria de qualquer jeito, apenas alguns anos mais tarde. Sendo assim, qual é a graça? Chegamos então a "O Exterminador do Futuro - A Salvação", que como diversão passageira pode até ser melhor que a Parte 3 (não que isso signifique grande coisa...), mas ainda assim perde feio para os dois primeiros filmes. Pior: também não acrescenta nada ao que já se viu. "A Salvação" se passa em 2018, anos depois da Skynet ter detonado uma guerra nuclear que devastou o planeta (vista no final da Parte 3), e já no meio do conflito entre a Resistência (formada pelos humanos sobreviventes) e as máquinas. A guerra entre humanos e cyborgs tem o melhor dos efeitos que um orçamento de 200 milhões de dólares pode pagar. O interessante é que esta mesma guerra já tinha sido apresentada, através de criativos flashbacks e com efeitos jurássicos, no primeiro "O Exterminador do Futuro". Logo, nem ao menos é novidade para quem viu o filme de 1984.

John Connor agora está crescido e tem o rosto e o físico de Christian Bale, o novo Batman. Ele ainda não se tornou o grande líder da Resistência de que tanto ouvimos falar nos outros três filmes, mas está a caminho de se tornar. E como as máquinas não conseguiram destruí-lo voltando ao passado nas três vezes anteriores, o espectador já sabe, desde o começo, que Connor também não vai morrer neste quarto filme. Por quê? Ora, lógica temporal: se no primeiro filme descobrimos que foi em 2029 que o velho John Connor enviou Kyle Reese ao passado para proteger sua mãe do Exterminador, é óbvio que nosso herói não pode morrer, pelo menos até 2029 - ou isso criaria um daqueles paradoxos no tempo que a série "De Volta Para o Futuro" explicou tão bem. Ao mesmo tempo em que apresenta uma ação desesperada da Resistência para tentar lançar um ataque maciço à Skynet, "A Salvação" introduz (ui!) um segundo personagem principal, Marcus Wright (interpretado por Sam Worthington), que é um cyborg, mas ainda tem partes humanas, como coração e consciência - e ele realmente acredita que é humano até pisar numa mina e descobrir que tem o esqueleto metálico tipo de cyborg.

É Marcus quem protege um jovem Kyle Reese (Anton Yelchin) da perseguição das máquinas. Porque, como sabemos, em 2029 Connor irá enviar Reese de volta no tempo até 1984, onde Reese irá transar com Sarah para que John possa nascer. Complicado, né? Até aí, tudo bem... Mas então o filme começa a amontoar explosivas cenas de ação e perseguições, e é claro que isso é um artifício para que o espectador não possa PENSAR muito naquilo que está vendo. E faz bem em não raciocionar dentro da sala de cinema, pois é sair dali para começar a analisar friamente a coisa e então perceber a imbecilidade do conjunto. "O Exterminador do Futuro - A Salvação" tem tantos momentos WTF ("Whatta Fuck) que merecia uma tese de mestrado.

Mas vamos aos principais deles:

* O alvo prioritário das máquinas neste filme não é John Connor, mas Kyle Reese. Afinal, a Skynet falhou em matar Sarah Connor, falhou duas vezes em matar John Connor, e sendo assim Reese torna-se o próximo alvo da família: se ele morrer, não tem como voltar a 1984 e transar com Sarah, e assim John não nasce. Correto. Mas calma lá: estamos em 2018, certo? O velho John só vai mandar Reese de volta a 1984 em 2029 - ou seja, em 11 anos. Então como é que a Skynet já sabe que Reese vai ser o pai de John? Será que a Skynet também sabe prever o futuro? Pois é...

* Digamos que haja uma explicação racional (mas não há) para que a Skynet saiba que Reese será o pai de John. Digamos que as máquinas tenham interceptado alguma das gravações deixadas por Sarah Connor para o filho, dizendo que Reese é o seu pai, por exemplo. Bem, isso só torna ainda mais absurdo o desenvolvimento de "A Salvação", já que os cyborgs aprisionam Reese na metade do filme e o mantém numa cela até o final. Putz, mas não era só eles acabarem com o jovem Reese e pimba!, fodiam com todo o futuro (ele nunca voltaria no tempo, nunca transaria com Sarah Connor e John conseqüentemente não existiria)??? Logo, se a Skynet sabia da importância de Reese para o passado/futuro (afinal, ele era o número 1 na lista de humanos perseguidos, como a Resistência fala em determinada cena), por que não o destruíram no momento em que ele foi capturado? Pois é...


* Por que John Connor fica tão desconfiado ao descobrir que Marcus é um cyborg, a ponto de não acreditar nele e ainda ordenar sua imediata destruição? Ora, pelo que eu me lembro, John teve duas experiências anteriores com cyborgs fabricados pela Skynet - o T800 e o T850 reprogramados pela Resistência, e interpretados por Schwarzenegger nas partes 2 e 3. Sendo assim, ele não deveria ficar ao menos com um pouquinho de dúvida em relação às intenções de Marcus? Pois é...

* Ainda sobre Marcus: a revelação de que ele é um cyborg acontece somente na metade do filme, embora todo mundo desconfie disso desde o início. As máquinas sabem que Marcus é um cyborg e o identificam imediatamente como "colega metálico" quando ele entra na fortaleza da Skynet, portanto não o atacam. Muito curioso isso, pois antes da revelação de que o personagem era uma máquina (ou seja, na primeira metade do filme), Marcus foi atacado o tempo inteiro pelos cyborgs como se fosse um humano normal. Um furo imperdoável, considerando que os cyborgs deveriam identificá-lo imediatamente com sua visão computadorizada. Só para refrescar a memória: um cyborg T600 tenta metralhar Marcus quando ele caminha pelas ruas devastadas de Los Angeles, e posteriormente as máquinas o atacam o tempo inteiro enquanto ele foge com Reese no caminhão-guincho. Será que podemos dizer que faz parte do plano de tornar Marcus um "espião" infiltrado entre os humanos? Olha, até podemos pensar assim... Mas e dá para engolir? Pois é...

* "A Salvação" se passa em 2018, correto? No "O Exterminador do Futuro" original, ficamos sabendo que a Skynet envia de volta a 1984 o seu modelo mais avançado de terminator, o T800, isso no ano de 2029. No final de "A Salvação", aparece um modelo do T800 para lutar contra John Connor (uma cena bem legal inclusive, com a cara digitalizada do Schwarzenegger sobre um dublê e tudo mais). Mas espera aí: como é que já temos um T800 em 2018? Quer dizer que durante mais de uma década, até 2029, a Skynet não consegue desenvolver nada mais avançado que ele? Estranho, porque os modelos T850 ("upgrade" do T800, visto na Parte 3) e os muito melhores T1000 (Robert Patrick na Parte 2) e TX (Kristanna Loken na Parte 3) parecem ter sido desenvolvidos num curtíssimo espaço de tempo (para não se perder, confira os modelos na montagem abaixo). A TX, por exemplo, é a última moda em 2032 (data citada na Parte 3), apenas três anos após o 2029 da Parte 1 (quando o T800 ainda era o modelo mais avançado, segundo Reese). Estranho? Pois é...

* No primeiro "O Exterminador do Futuro", o já envelhecido Kyle Reese explica a Sarah Connor que os primeiros modelos de exterminador desenvolvidos pela Skynet, os T600, tinham pele de borracha e eram fáceis de reconhecer, enquanto os T800 eram impossíveis de distinguir dos humanos. É estranho, porque "A Salvação" traz vários T600, só que nenhum deles com pele de borracha - todos aparecem já como esqueletos metálicos, sem qualquer revestimento.

* Outro furo se compararmos o jovem Reese com o velho Reese do filme original: em 1984, ele explicava a Sarah que não sabia como era a fisionomia do T800, e por isso precisou esperar que o Exterminador se revelasse (no tiroteio da boate Technoir) para poder proteger a moça. Mas pô, o final de "A Salvação" mostra o jovem Reese enfrentando o modelo T800, e já com o corpo e o físico de Schwarzenegger! Como é que o sujeito esqueceu aquela carranca em apenas 11 anos, quando foi enviado de volta a 1984? Pois é...

* O final do quarto filme acontece na fábrica onde a Skynet produz, em série, seus modelos de exterminadores - tanto o ultrapassado T600 quanto o inovador T800. Ali estão pelo menos duas figuras de fundamental importância no passado/futuro da saga: John Connor (filho) e Kyle Reese (futuro pai). Bastaria matar qualquer um dos dois para arrasar o passado/presente/futuro visto na série inteira de maneira irrecuperável. Mas o que a Skynet faz? Manda um único T800 atrás da dupla dinâmica, mesmo que a batalha aconteça numa fábrica repleta de cyborgs novinhos em folha! Pois é...


E tenho certeza que se eu ficasse pensando na lógica temporal das viagens para o passado e para o futuro, encontraria mais um caminhão de furos de roteiro. E vejam bem que nem estou contando aqui outras coisas difíceis (ou impossíveis) de engolir, como o fato de John Connor, um humano comum, safar-se sem maiores problemas de duas quedas de helicóptero. Isso inclusive me lembra de uma coisa engraçada: a onda de choque de uma explosão simples derruba o helicóptero em que John está na primeira cena do filme; porém, na conclusão, o helicóptero onde estão os heróis voa sem problemas bem pertinho do cogumelo atômico formado por uma gigantesca explosão nuclear, que, teoricamente, também deveria provocar uma onda de choque que derrubaria a aeronave!!! Pois é...

Por causa desse tipo de coisa que eu fico fulo: os caras torram 200 milhões de dólares num blockbuster e não podem dar um pouquinho mais de atenção a uma coisa fundamental como o roteiro? É o tipo de besteira que você vê num trash podreira dirigido pelo Bruno Mattei e até acha engraçado, mas que não deveria de forma alguma estar numa superprodução desse nível, principalmente quando ela é seqüência direta de uma franquia conhecida pela qualidade. Sabe-se que o que foi para as telas não é um roteiro, mas sim uma colcha de retalhos. Do roteiro inicial, escrito por John D. Brancato e Michael Ferris (os mesmos infelizes que escreveram a Parte 3), deve ter sobrado bem pouco. Pelo menos o galã Christian Bale não cansa de repetir, em toda e cada entrevista que dá, que esta primeira versão era péssima e fazia de John Connor um mero personagem coadjuvante.

Seguiram-se, então, diversos convites para que outros autores reescrevessem o material. No começo de 2008, quem colocou a mão na massa foi o oscarizado Paul Haggis. Alguns meses depois, foi a vez de Shawn Ryan fazer novas modificações. Mesmo assim, a coisa ainda não estava com cara boa, pois durante as filmagens também apareceram ainda Anthony E. Zuiker e Jonathan Nolan (co-roteirista de "Batman - O Cavaleiro das Trevas", convidado pelo próprio Bale para o set de "A Salvação") para mexer no roteiro. E mesmo com tanta gente metida, sobrou esse monte de buracos e informações equivocadas, que qualquer reprise dos três primeiros filmes da série corrigiria facilmente! Agora, eu me pergunto: como pode um roteiro reescrito um milhão de vezes por pelo menos meia dúzia de pessoas continuar ruim e mesmo assim ser filmado? O que se vê na tela é não tem qualquer profundidade ou pelo menos o suspense da perseguição dos personagens humanos por máquinas indestrutíveis, que havia nos dois primeiros filmes e, vá lá, no terceiro.

A melhor coisa do roteiro é o tal Marcus Wright, uma máquina com sentimentos, que nem sabe ao certo o quanto é homem e o quanto é cyborg. Infelizmente, esse conflito mal é aproveitado pelo diretor entre uma explosão e outra. Aliás, me lembrou muito uma tralha italiana do Sergio Martino, "Keruak - O Exterminador de Aço", onde o protagonista, como Marcus aqui, era um cyborg em busca de sua humanidade. A diferença é que a produção italiana, além de ter sido feita 23 anos antes, custou 199 milhões de dólares a menos.E por falar em "roteiro ruim", alguém sinceramente lembra o que a Bryce Dallas Howard está fazendo no filme? É que ela é tão mal-aproveitada que podia ficar em casa vendo TV ao invés de abraçar um papel sem sal e sem participação alguma na trama principal. Está fácil ganhar dinheiro na Hollywood de hoje... Mas é claro que agora é tarde e esse meu choro não vai adiantar nada: "O Exterminador do Futuro - A Salvação" certamente acabará sua trajetória nos cinemas como um estrondoso sucesso de bilheteria, dando o sinal verde para a já anunciada quinta parte, agendada para 2011.

Fico pensando o que mais eles têm a acrescentar a tudo que já foi feito, e que novos furos estão preparando para esta nova aventura. Certamente não teremos maiores novidades do que o que já sabemos até agora - lembre-se que já sabemos até que John Connor será morto por um T-850 em 2032, conforme explicado na Parte 3, certo? E era por isso que eu estava torcendo para que a Resistência finalmente vencesse sua interminável guerra contra a Skynet, como muitas vezes é prometido ao longo das quase duas horas do filme - e, afinal, o subtítulo não é "A Salvação"??? Assim, quem sabe, seríamos poupados de mais uma, duas ou sabe-se lá quantas continuações de uma série que estaria completíssima e com 100% de aproveitamento caso tivesse parado em "O Exterminador do Futuro 2". Mas aí veio aquele papinho xarope de "Vencemos a batalha, mas não a guerra", e eu perdi a esperança de ver o fim dessa série tão cedo.



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